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Um crime bárbaro que chocou o Brasil em 1976 ganha sua versão cinematográfica em Angela, dirigido por Hugo Prata. Foi o primeiro longa-metragem da mostra competitiva brasileira a ser apresentado na 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado.

A socialite Ângela Diniz era um acontecimento nas pistas das boates. Figura controversa e polemica, a personagem vivida por Isis Valverde era mineira, livre, rica, bissexual. Ela era muito, e o que vemos na tela, é uma Angela reduzida a uma mulher mimada, fútil e voraz por sexo. Em nenhum momento a vemos por completo.  

Ao retratar o famoso caso de feminicídio, Hugo Prata entrega uma produção capenga e sem brilho. É um filme que vai na contramão daquilo que se pretendia. Quando é preciso ir para a internet pesquisar tudo sobre o que você acabou de assistir, um grande problema pode estar diante das suas mãos. 

Isis Valverde é uma atriz talentosa e competente. Também mineira como sua personagem, faltou a ela um roteiro que lhe desse a dimensão de quem era a verdadeira Ângela Diniz.  

A escolha de Gabriel Braga Nunes para viver Raul “Doca Street” foi única e exclusivamente pela beleza e por passar a imagem de lobo em pele de cordeiro. E é aí que está o problema. Já vimos ele interpretando esse tipo de personagem zilhões de vezes. Não teve novidade, nem surpresa, tão pouco entrega. 

Não fica claro em nenhum momento do filme que a história ali retratada dura apenas quatro meses, quais problemas enfrentou no antigo casamento, a falta dos filhos ou mesmo que a socialite era bissexual. É tudo jogado, rápido demais e sem muita emoção.   

Cartaz do Filme – Divulgação

O filme perde uma oportunidade de ouro, de retratar o caso de feminicídio, de mostrar ao telespectador o quanto este crime chocou o país. E de intercalar com a violência que muitas mulheres sofrem até hoje. O tema ‘Quem ama, não mata’ – famoso slogan após a repercussão do crime na época – é mencionado apenas nos letreiros finais.   

Quem rouba a cena nas poucas – e poderosas – cenas que tem, é a atriz Alice Carvalho (Cangaço Novo). Com seu olhar penetrante e talento ímpar, Alice merecia um debut no cinema digno de seu talento. 

É preciso ainda ressaltar todos os coadjuvantes desse filme. Destaco Emílio Orciollo Neto, Carolina Manica e Chris Couto. O diretor declarou que pretende ainda finalizar mais um filme com protagonismo feminino (Elis é seu primeiro longa-metragem) e, que não entende o porque encasquetou com essa premissa. A verdade é que nem nós ainda entendemos o porquê. NOTA: 2.5/5.0