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Reprodução/Orkut

Nos anos 2000, a internet era uma promessa de liberdade, conexão e experimentação. Plataformas como Orkut, Fotolog e MySpace surgiram como espaços para expressar gostos pessoais, conhecer pessoas com interesses em comum e criar comunidades em torno de afinidades reais ou aspiracionais. Não havia algoritmo ditando o que você veria — o feed era cronológico, e a lógica das interações era mais afetiva do que estratégica.

Nessa época, o objetivo principal era socializar, compartilhar momentos e descobrir novas culturas online. O “scrap” no Orkut ou um comentário no Fotolog carregavam valor simbólico, não monetário. Havia um senso de autenticidade e espontaneidade que marcava o comportamento digital da época.

Mas, aos poucos, a rede social se transformou em rede comercial. Com o crescimento de plataformas como Facebook, Instagram e, mais recentemente, TikTok, o foco foi mudando. A partir da década de 2010, os algoritmos passaram a privilegiar conteúdos com maior potencial de engajamento — o que abriu espaço para a monetização em escala. O que antes era um lugar para troca pessoal virou um território de visibilidade, branding e conversão.

Enquanto muitos seguem em busca do próximo hype digital, milhões de brasileiros estão, na verdade, olhando para trás — e não é (só) por saudosismo. É porque talvez o passado digital faça mais sentido do que o presente.

O retorno do Orkut reacendeu uma memória coletiva e revelou um sentimento latente: o cansaço generalizado com o que as redes sociais se tornaram. Mais do que nostalgia, o que está em jogo é o desejo por uma internet mais humana.

Nos anos 2000, quando o Orkut surgiu, as redes sociais ainda não eram mercados de atenção. A lógica era outra: conectar pessoas, descobrir comunidades, compartilhar interesses — sem algoritmos decidindo o que você veria ou sentindo-se pressionado a performar o tempo todo.

Naquela época:

  • O modelo de negócios das redes não era baseado em publicidade direcionada.
  • Não havia coleta massiva de dados pessoais nem venda de comportamento de navegação.
  • A presença online era espontânea, não curada.
  • O “ser alguém” online estava mais ligado a pertencer do que a aparecer.

Já as redes sociais de hoje transformaram conexão em espetáculo. Performance virou regra. Spontaneidade deu lugar a filtros, tendências e fórmulas de engajamento. Tudo é medido: curtidas, alcance, tempo de visualização. E quanto mais você entrega sua atenção, mais você “vale”.

Esse modelo tem um custo alto — e visível. Segundo uma pesquisa da Ipsos de 2024, 81% dos brasileiros acreditam que as redes impactam negativamente sua saúde mental. Não é exagero dizer que a leveza das redes sociais do passado virou um peso invisível no presente.

O Orkut, nesse contexto, virou símbolo de um tempo em que estar online ainda era uma experiência leve e, principalmente, segura emocionalmente.

A estética pode parecer ultrapassada. Mas o que ela representa é o que estamos perdendo: imperfeição, pertencimento e humanidade.

O problema não é sentirmos saudade de uma rede antiga.
O problema é termos aceitado que sentir-se mal nas redes virou normal. E isso precisa mudar.

O novo Orkut promete mais do que nostalgia

Diferente da primeira versão, o novo Orkut não quer apenas reproduzir o passado: quer repensar o futuro. Com inteligência artificial para moderação ética, sistema de reputação baseado em confiança e algoritmos transparentes, a proposta é clara: uma rede onde visibilidade só vem com empatia.

Enquanto TikTok, Instagram e X (antigo Twitter) gamificam emoções para maximizar engajamento — acelerando o consumo e a comparação — o novo Orkut tenta fazer o oposto: desacelerar.

  • Sem feed infinito.
  • Sem guerra de likes.
  • Sem conteúdo impulsionado por indignação.

Mesmo para quem nunca usou o Orkut, o projeto traz um valor novo: é uma rede feita com intenção.
Intenção de proteger, de cultivar pertencimento, de cuidar da saúde digital dos usuários.
É um convite a repensar o propósito de estar online.

Porque talvez o futuro das redes não esteja no próximo app viral.
Talvez esteja na ética que esquecemos.

O novo Orkut não quer apenas voltar.
Ele quer provar que ainda é possível criar um espaço digital onde a conexão real vale mais do que qualquer curtida.