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Cena do filme Click (Reprodução)

Uma madrugada dessas eu tive insônia, e com ela a brilhante ideia de pegar o Ipad e assistir um filme até o sono finalmente voltar, alerta de spoiler, não dormi até o final do filme. O filme que escolhi foi Click (2006), protagonizado por Adam Sandler. Na história, um arquiteto workaholic encontra um controle remoto que permite avançar, pausar e voltar diferentes partes da sua vida.

Parece incrível né, imagina você poder comandar sua vida assim como faz no streaming – pular pra o que realmente interessa, assim como fazemos com abertura, que se torna chata a medida que se repete a cada episódio.

Mas como já sabem, ou pra quem não assistiu, não dá muito certo. Em meio a cenas vergonhosas com gordofobia, misoginia entre outras dada ao ano do filme, quem diria que dá pra se emocionar com um filme com o Sandler. Isso ocorre pois o enredo parece mais atual do que nunca.

Na época de lançamento do filme, a internet ainda não era como é hoje, pra você ter uma ideia, o Instagram foi criado quatro (4) anos após, nesse texto quero fazer essa provocação trazendo Click para atualidade – nosso smartphone é nosso controle remoto universal.

No filme, quando o personagem avança os momentos rapidamente com o controle, ele entra no modo “piloto automático“, que é bem parecido como ficamos quando estamos em uma roda de amigos, e enquanto todos conversam estamos absorvidos no smartphone e respondemos coisas aleatórias verbalmente pois não estamos dando atenção para eles.

Sentimos estar no comando ao escolhermos o que queremos e quando queremos nas redes, além de ser uma falsa sensação, já que é o algoritmo que nos conduz, nos afastamos de quem está perto para dar atenção pra quem está longe.

Esse afastamento de quem está perto, nos leva a grande tragédia do protagonista – ele perde todos momentos importantes da vida, no caso dele, crescimento dos filhos, distanciamento dos seus pais e de sua esposa, levando ao divórcio; aqui dou destaque onde me pegou, ele perde seu pai, e seu último momento com ele, foi o ignorando por estar no “piloto automático” – mas, ele chega onde queria, onde controlou para chegar, a sociedade no escritório.

Trabalho é importante, querer números e resultados também, quem nunca se frustou ao não ter o resultado que queria, ou algo que imaginou ser merecedor. Mas a verdade, por mais que pareça tentador, ter um controle universal é uma grande frustração, pois assim como as redes sociais, a vida tende a ter um algoritmo, e não depende só de você para que o feed role.

Ser paciente, respeitar o tempo de tudo e todos, dar atenção as pessoas importantes, viver presente – ainda sim não é estar no controle, ao menos não universalmente, mas pode ser o seu controle.