Luiz Fernando
#PraTodosVerem Foto de Luiz Fernando, em uma sala de cinema. Ele é um jovem branco de cabelos castanhos e barba por fazer. Visto da cintura para cima, ele usa um agasalho azul com amarelo na gola e vermelho no zíper. Está em pé e segura um celular próximo aos olhos.

Promover inclusão de verdade exige mais do que discursos. Pensando nisso, o Coletivo Inclusão lançou a cartilha Empresas que Transformam – Caminhos Reais para a Inclusão de Pessoas com Deficiência Intelectual, um guia que alia base técnica a vivências práticas. A publicação, com 46 páginas, nasceu da escuta dos próprios alunos com deficiência intelectual, que expressaram o desejo de conquistar autonomia também no mundo do trabalho.

O material é resultado da experiência acumulada nas oficinas de empregabilidade promovidas pelo Coletivo, em parceria com a APAE de Fazenda Rio Grande. Com linguagem clara e acessível, a cartilha reúne aspectos legais e metodológicos que orientam empresas na criação de um ambiente inclusivo, mostrando como a diversidade fortalece a cultura organizacional, amplia os compromissos ESG e gera impacto social positivo.

Da legislação à realidade das empresas

Entre os pontos abordados, o guia explica de forma objetiva como cumprir a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/1991), a Lei da Aprendizagem (Lei nº 10.097/2000) e a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). Além disso, desmistifica dúvidas recorrentes de empregadores e famílias, como a manutenção de benefícios sociais por trabalhadores contratados, e apresenta exemplos de ajustes simples no cotidiano das empresas.

O modelo adotado pelo Coletivo segue a metodologia do Emprego Apoiado, garantindo suporte individualizado ao trabalhador e ao gestor. A proposta é que inclusão não seja apenas uma obrigação legal, mas uma prática sustentável, que fortalece equipes e amplia oportunidades.

A assistente social Márcia Miranda, gestora do Coletivo Inclusão e organizadora da publicação, explica que a iniciativa responde a uma demanda concreta: “Em nosso trabalho, acompanhamos várias situações resolvidas na vida de pessoas com deficiência, como o acesso à saúde, à cultura, à educação. Faltava a parte do emprego para se tornar cidadão. Acompanhamos muitos alunos nos quais conseguimos ver uma grande evolução e essa parte do sentimento de pertencimento enquanto trabalhador era uma lacuna”, afirma.

Esse pertencimento já é realidade para Luiz Fernando Globoski, 24 anos, aluno da APAE e apaixonado por comunicação. Há três anos, ele atua como assistente de redes sociais no Coletivo Inclusão. Sua trajetória inspirou a elaboração da cartilha, reforçando como as oportunidades podem mudar vidas.

Oficinas que formam cidadãos e profissionais

A publicação também reflete o trabalho desenvolvido nas oficinas de empregabilidade, que atualmente atendem 17 jovens e adultos na APAE de Fazenda Rio Grande. Nessas atividades, os participantes aprendem desde noções de autonomia, cidadania e convivência em equipe até habilidades ligadas ao ambiente corporativo, como pontualidade, resolução de problemas e práticas específicas para recepção de eventos.

Segundo Brener Pereira, criador da Zouk Produções — primeira produtora a ter 100% pessoas com deficiência em seu quadro de recepcionistas — e professor da oficina:  “Nós temos o compromisso de aprimorar habilidades e conhecimentos em temáticas que o aluno possa explorar dentro de si. A pessoa com deficiência gosta de pertencer, de se fazer presente através da prestação de serviços”.

A experiência direta com alunos e famílias possibilitou ao Coletivo Inclusão identificar as barreiras mais recorrentes e propor soluções efetivas. A cartilha organiza esse aprendizado em um roteiro prático, ajudando empresas a transformar boas intenções em contratações reais.

Apoio contínuo às empresas

O Coletivo Inclusão está preparado para atuar lado a lado com as empresas que decidem investir na inclusão de pessoas com deficiência intelectual. Esse apoio envolve desde palestras de sensibilização para gestores e equipes até o acompanhamento técnico nas etapas de contratação e adaptação no ambiente de trabalho.

Por meio do programa Empresas que Transformam, a organização garante que cada contratação aconteça de forma sustentável, alinhando-se às metas legais e aos valores de ESG de cada companhia. Além disso, o Coletivo oferece suporte contínuo às famílias, fortalecendo a rede de apoio necessária para que a experiência seja positiva para todos os envolvidos. “Pessoas com deficiência que querem trabalhar, há bastante. Mas as empresas ainda têm muita dificuldade em viabilizar essas vagas por motivos culturais, de acessibilidade e desconhecimento. Nossa intenção é criar oportunidades e um ambiente que seja bom para ambas as partes”, conclui Márcia Miranda.