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O Brasil exporta anualmente milhares de bovinos vivos para abate no Oriente Médio. Em 2018 foram mais de 700 mil, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. As condições em que os animais são transportados são terríveis: navios superlotados e sujos, sem alimentação, hidratação e assistência veterinária adequadas e alta proliferação de doenças. 

A situação tem mobilizado instituições mundo afora e no Brasil não é diferente. Na semana do Dia Internacional contra a Exportação de Animais Vivos (14 de junho), aconteceram manifestações em mais de 40 países de todos os continentes, incluindo o Brasil, para conscientizar a população sobre o sofrimento dos animais expostos a este tipo de transporte.

O movimento internacional é encabeçado pela ONG Compassion in World Farming e, no Brasil, a mobilização está sendo realizada pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, em conjunto com organizações de diversas cidades.

“A condição de maus-tratos começa no transporte das fazendas para o porto, já extremamente estressante para os animais. Depois de embarcados, as viagens, com densidade altíssima de animais duram semanas até o Oriente Médio e os expõem a ambientes sujos de fezes e urina, muito quentes e com acúmulo de gás metano, o que dificulta a respiração, e sem mínimas condições que garantam o bem-estar”, detalha Vânia Nunes, médica veterinária, diretora técnica do Fórum Animal. Essa situação já foi constatada, inclusive, em navio no porto de Santos, em vistoria técnica designada judicialmente.

Além do sofrimento animal, a conta econômica também não fecha. Em 2018, a exportação de gado vivo gerou receita de US$ 470 milhões aos cofres nacionais. O valor pode parecer promissor, mas representa apenas 7% da receita proveniente da exportação de carne e derivados, que ultrapassa os US$ 6 bilhões anuais.

“A exportação de produtos primários não é tributada. Assim, o Brasil deixa de gerar receita com subprodutos de alto valor agregado, como o couro, e também deixa de gerar outros empregos no país. O ideal é que animais não fossem vistos como mercadoria, mas os dados mostram que nem mesmo o argumento econômico justifica a exportação de animais vivos para abate”, complementa Elizabeth MacGregor, diretora de educação do Fórum Animal.

A prática de transporte também causa impacto ambiental considerável. Devido às péssimas condições, muitos animais não resistem à viagem e as carcaças são jogadas no mar, juntamente com toneladas de fezes e urina produzidas diariamente.