A
arte de transformar organizações com a ajuda da filosofia
e da antropologia
Nesta segunda série de reportagens em homenagem ao Dia Internacional
da Mulher, reúno aqui a arte, a filosofia e a antropologia.
Essas áreas do conhecimento humano têm sido utilizadas
como ferramentas para transformar – para melhor – as
organizações por onde transita a empresária
Maria Christina de Andrade Vieira.
Com uma formação nada convencional, ela já
foi por vezes questionada sobre sua experiência como administradora,
mas tem sempre na ponta da língua o ensinamento que recebeu
do pai, Avelino Andrade Vieira, fundador do Banco Bamerindus.
Costuma-se
associar sua imagem ao do grupo Bamerindus, onde atuou com muito
destaque. O convívio familiar influenciou sua trajetória?
Maria Christina de Andrade Veira – Nunca
tive uma formação convencional em administração.
Fiz cursos patrocinados pelas organizações, mas eu
tive uma escola desde que nasci, que era meu pai (Avelino Andrade
Vieira, fundador do Banco Bamerindus). Eu entrava em casa, almoçava,
tomava café e dormia ouvindo ele falar de negócios.
E dando uma aula de negócios. Como sei administrar? Está
na veia.
O que
mais herdou do seu pai e que aplica nos dias de hoje?
Maria Christina – Para mim, deixar uma marca é
muito importante e isso veio do meu pai. Eu queria fazer a diferença
e não precisa muito para mudar o mundo. Basta transformar
as coisas ao seu redor. Lembro do exemplo de uma pessoa que fazia
administração e largou tudo para se tornar artista.
Com isso, levou arte a uma favela de Curitiba e transformou aquela
realidade. Essa é a resposta que eu tenho do meu trabalho.
Se cada um fizer isso, vai multiplicando e ampliando esse ganho.
Como
sua formação em filosofia, antropologia e arte ajuda
as organizações por onde realiza treinamentos e palestras?
Maria Christina – Olhando para trás, os cursos
que escolhi foram voltados ao ser humano e esse continua sendo um
mistério para as empresas. Tudo que é técnico
as empresas podem ensinar, mas as necessidades básicas de
competências, habilidades, ela dá conta de suprir com
seus funcionários. O que ela não supre são
aspectos comportamentais.
De que
maneira mudar a cabeça dos chefes, dos líderes?
Maria Christina – Tudo funciona se a liderança
tiver vontade, gás, energia. Se não tiver isso, pode
ter três pós-graduações, doutorado, falar
vários idiomas. Transformar o conhecimento intelectual em
ação é o desafio. Sou voltada para fazer acontecer,
porque as empresas querem resultado.
E como
trazer resultados?
Maria Christina – É preciso mobilizar as pessoas
e as empresas precisam desenvolver um tipo de liderança para
que as pessoas vistam a camisa da empresa. A filosofia traz um pouco
disso, do exercício de um raciocínio lógico,
do bom senso e do critério, fatores que estão faltando
nas empresas. Quando pergunto com que critério são
escolhidos os funcionários, os chefes me olham com cara de
susto, porque decidiram aleatoriamente. Como ser justo, se eu não
tenho critério transparente para o funcionário.
Em sua
experiência, qual a principal falha dentro das empresas?
Maria Christina – É unanimidade nas empresas
a falta de comunicação, tanto da liderança
para a base quanto do chão de fábrica para os gestores.
Não se sabe como notificar, comunicar, participar, dizer
o que foi feito, quem deve saber. A liderança precisa guiar
a organização como um comandante de um navio. Não
adianta apenas dizer: Vamos nessa rota. De vez em quando, ele tem
que checar se todos estão seguindo a rota. Está faltando
o líder que mobiliza por causas, não por autoritarismo.
As pessoas vão porque se entregam a ele porque ele é
considerado um guru, porque a meta é boa.
Nas
empresas onde atua, onde reside a falta de comunicação?
Maria Christina – O grau de desconhecimento dos processos
internos é muito grande e acabo tendo que me envolver nessa
área. Isso já não deveria acontecer mais no
Brasil. Isso é qualidade total, da década de 1980,
e o nível de erro ainda é enorme. As pessoas têm
dificuldade até para que dos profissionais se reúnam
para resolver os processos, as falhas de processos. Eu tenho levado
de seis meses a um ano para que os profissionais conversem adequadamente
e sem melindres.
E como
fica o profissional nesse turbilhão de informações,
precisando ser eficiente, dar conta de resultados e que, muitas
vezes, está insatisfeito na sua função?
Maria Christina – Costumo enfatizar nas minhas palestras
a atitude. É preciso que cada um olhe para dentro de si e
se pergunte: “Eu estou onde quero, estou na empresa que escolhi
ou os treinamentos de que participo me entediam?”. Se não
for o que lhe dá prazer, procure seu lugar e vá ao
encontro da sua realização, como aquela mulher que
largou administração e se encontrou na arte.
E a
competitividade entre homem e mulher. Como você analisa os
dois profissionais nas organizações nos dias de hoje?
Maria Christina – Na década de 1990, dei muita
palestra sobre mulher. O assunto era só mulher, quer no mercado
de trabalho, quer na vida política ou em outras áreas.
Não vejo por que separar a mulher empresária e o homem
empresário. Não vai melhorar a gestão o fato
de ser mulher ou homem. Não existe gênero, o que há
são lideranças.
Qual
a orientação para homens e mulheres?
Maria Christina – O grande desafio para homens, mulheres,
enfim, cidadãos, é o equilíbrio. Não
vejo diferença se estou na frente de uma diretora mulher
ou de um diretor homem. Prefiro ver cidadãos que devem trabalhar
em prol da vida pessoal, da empresa onde trabalham, para o Estado
e o país de forma comprometida.
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