O tema polarização na política está entre as preocupações da sociedade como um todo, principalmente, de empresários, executivos, profissionais liberais e trabalhadores. Por conta das forças políticas que se contrapõem o risco de um acirramento poderia levar o país a um impasse para o crescimento? Conversamos com o Professor Francisco Teixeira, historiador, cientista político e especialista da Fundação Dom Cabral. Recentemente, o Professor Teixeira participou de Fórum Empresarial, organizado pela consultoria JVALÉRIO, onde traçou as perspectivas para economia mundial, fez alertas sobre os efeitos da polarização política na economia e nos negócios.

Quais possibilidades reais de uma polarização atrapalhar mais ainda a nossa situação de insegurança para investidores?
“A polarização política no país já atrapalha as condições reais de investimentos e de segurança jurídica das empresas. Essa questão já é real. Nós estamos vendo questões de investimentos sendo adiados, por causa de política e, principalmente, de declarações e idas e vindas. São feitas declarações e depois são feitos desmentidos. Vejamos: na área do MERCOSUL – isso é muito claro -, se retirar de uma organização tão poderosa, tão importante como é o MERCOSUL, por questões ideológicas, isso evidentemente faz com que empresas que poderiam aproveitar do mercado único adiem seus investimentos. A assinatura de uma área de livre comércio – outro caso -, seja com os EUA, seja com a China, faz com que o cálculo de longo prazo das empresas seja revisto. Uma empresa que vai se instalar ou ampliar seu parque industrial, sua área de atuação no Brasil, em longo prazo, vai pensar: como será meu plano estratégico se for feito um acordo de livre comércio tão poderoso como uma área de livre comércio com a China? Com isso, o setor de indústria de transformação, indústria para consumo de bens duráveis, serão duramente afetadas. Estão sendo feitas declarações sem serem realizados estudos aprofundados sobre essas questões e cria uma insegurança muito grande. Essa possibilidade de estarmos fazendo uma guerrilha ideológica de declarações para efeito de potencializar uma situação política é muito desfavorável nesse momento”.

O que os empresários podem fazer?
“O papel dos empresários, nesse momento, deveria ser um papel de mediação e moderação. Os empresários deveriam exigir do governo um plano claro, um programa claro de ações em que pudessem estar estabelecidos quais são as metas e aqui os empresários deveriam ter clareza das diferenças entre reforma do estado, que é um elemento importante, principalmente na área de tributação – e aqui particularmente nós invertemos a situação colocando a reforma tributária em plano secundário em relação às outras reformas, a exemplo de política industrial e de emprego. Estamos atrelando alguma coisa que deveria ser imediata, a política industrial e a de emprego, as reformas de longo prazo, mais difíceis e complicadas, que dependem da aprovação do Congresso. Uma política industrial e uma política de emprego não dependem do Congresso. São políticas de âmbito do governo. O governo pode colocar isso em prática no momento que quiser. E não faz por simples decisão própria. Hoje o Brasil precisa de uma clara política industrial e de uma clara política de emprego. E a política de reformas do Estado precisa ser negociada com o Congresso. Então são coisas diferentes. Caberia ao empresariado brasileiro, através dos seus entes associativos demandarem ao governo um programa de longo prazo, um calendário, uma agenda dessas reformas, o que ele quer com essa agenda e realizar as etapas sem desmentidos, sem voltas, sem balões de ensaios que criam esse clima de insegurança. E ao mesmo tempo ir praticando, de maneira sistemática e paulatina, com clareza, a política industrial e a política de empregos”.

O senhor acredita que economia se descolou um pouco da política e os negócios não param de criar novas estratégias de sobrevivência?
“Economia e política não estão descoladas. São elementos que andam lado a lado. E há a exemplos, como medidas políticas alteram imediatamente o valor do dólar, alteram o valor da Bolsa de Valores, criam momentos de tensão, de desânimo e criam bolhas nesse sentido. É claro que a tensão entre EUA e China que pode se agravar, mas nesse momento está em plena negociação – a vai sair um acordo, o empresariado brasileiro tem que estar atento a esse acordo porque não será benéfico para o Brasil, não será benéfico ao agronegócio brasileiro, temos que acompanhar isso com atenção. E isso não é descolar política da economia. As coisas estão implicadas. Os grandes pensadores crêem que política e economia estão embutidas um no outro. Essa idéia que pode ir tocando uma coisa com a outra é meramente administrativo no sentido de que o Congresso está tocando a pauta que é necessária, independente de muitas coisas que o Executivo está se mostrando incompetente para fazê-lo, mas quando o Congresso toca essa pauta ele toca politicamente, da sua forma. Isso não é separação, isso é na verdade uma ‘bicefalia’ da política. É isso que está acontecendo nesse momento. Numa sociedade complexa, global, nesse momento, política e economia, mentalidades e ideologias formam um novelo só”.

Com a participação da Jornalista Ester Athanásio-DePropósito Comunicação de Causas


CURTAS
*Uso racional de antimicrobiano torna gestão hospitalar mais eficiente. Uma pesquisa liderada pelo diretor do Hospital Universitário Cajuru e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Juliano Gasparetto, além dos também professores da Escola de Medicina da PUCPR, Felipe Francisco Bondan Tuon e Thyago Proença de Moraes, constatou que muitos hospitais em países de baixa e média renda estão implementando programas de administração de antibióticos. Os programas podem trazer redução de custos, mas devem ser feitos de forma a oferecer o tratamento mais eficaz para o paciente. “O objetivo é melhorar os resultados, diminuir a resistência aos antibióticos e aumentar a eficácia do tratamento”, destacam os pesquisadores. Atualmente, o trabalho da prescrição racional de antibióticos produz uma economia de 40 mil reais por mês para o Hospital.

*Gestão com foco em temas socioambientais é necessidade do mercado. Empresas focadas em sustentabilidade e projetos sociais podem sair na frente e se tornarem ainda maiores. A discussão sobre práticas mais conscientes de mercado tem aumentado significativamente a cada ano, com cada vez mais empresas focadas no controle de seus impactos sociais e ambientais. O tema seguirá na agenda da Amcham Curitiba (Câmara Americana de Comércio) em 2020, no Comitê de Gestão e Sustentabilidade, dando sequência às pautas que aconteceram em 2019. O último encontro do Comitê, em dezembro, deu o tom das reflexões e discussões que deverão acontecer nos próximos meses. O evento contou com palestras do criador do Instituto Legado e co-fundador do Marins Bertoldi Advogados, James Marins, e da sócia da Editora Voo, Priscila Seixas. O presidente do Instituto Legado, organização sem fins lucrativos que apoia condições de trabalho em rede para que o impacto socioambiental cresça no mundo, falou ao público sobre a importância de se adaptar às novas maneiras de se empreender. ‘‘Nosso objetivo precisa ser levar o empreendedorismo para o social e o social para o empreendedorismo’’, disse.

*Livro: “A Civilização do Espetáculo”. Mario Vargas Llosa. Segundo o escritor Mario Vargas Llosa, a banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são características da sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo a natural propensão humana para o divertimento. Hoje, lamenta Llosa, a cultura atua como mero mecanismo de distração e entretenimento. Para ele, “a ideia ingênua de que, através da educação, se pode transmitir cultura à totalidade da sociedade, está destruindo a ‘alta cultura’, pois a única maneira de conseguirmos essa democratização universal da cultura é empobrecendo-a, tornando-a cada dia mais superficial”. Para o autor peruano, a figura do intelectual que estruturou todo o século XX teria desaparecido do debate público. Ainda que alguns assinem manifestos e participem em polêmicas, sua repercussão na sociedade é mínima. Conscientes desta situação, observa Llosa, “muitos optaram pelo silêncio”.


FRASE
“O mundo não está interessado nos temporais que você encontrou. Ele quer saber se você trouxe o navio”

(William McFee)