O brilho no olhar do juiz Ricardo Tadeu Marques da Fonseca
No último dia 17 de setembro, os veículos de comunicação estamparam em manchetes a posse do primeiro juiz cego do país, Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, nomeado para o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região.
Entretanto, registro aqui o que, para essa coluna, é notícia e que certamente não é matéria-prima com que se pauta o dia-a-dia. Eu vi o brilho nos olhos do juiz naquela noite e me senti inebriada com a energia que emanou do seu discurso, permeado de sentimento e de um algo a mais que me fez agendar uma entrevista com o Dr. Ricardo por telefone no dia seguinte.
Em sua oratória irrepreensível, ele arrebatou os corações de todos ali presentes e, mais ainda, ofuscou completamente o discurso do excelentíssimo presidente da República, que falou em seguida. Não que tenha sido sua intenção, longe disso. É que suas palavras contagiaram a todos e foi algo, como ele mesmo disse, místico.
Assim como o número 17 que o segue nos bons momentos de sua vida, ele remeteu os 33 anos do TRT à morte de Jesus homem para o nascimento de Cristo divino. Aquilo me fez perceber: realmente, que ele detinha algo a mais e não só o fato de possuir uma deficiência (o juiz, que nasceu com baixa visão, perdeu a capacidade de enxergar quando cursava a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, aos 23 anos).
Isso, aliás, não faz a menor diferença em relação à diferença que já fez nesse mundo ao longo de seus 50 anos (perdoe-me, juiz, revelar sua idade!).

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Antes da bonança, a tempestade
O magistrado, que passou no concurso para juiz do Trabalho em São Paulo, foi desclassificado por ser cego. Rememorando esse tempo e revivendo a vitória da posse, ele confessa que já tinha esquecido o desejo de ser juiz e se sentia intensamente realizado no Ministério Público. “A lição que tenho mais forte do Evangelho é Pedi e será concedido”, afirma.
Ele admite que, como qualquer ser humano, ele sentiu muita insegurança, mas ao mesmo tempo as forçar da natureza se convergiam e tudo que era adversidade se reverteu em força positiva. “A tempestade talvez sirva para preparar a bonança. A gente amadurece com a tempestade. Sentir discriminação me preparou para o cargo que assumi”, assinala.

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Hora de plantar, hora de colher
Passaram-se 19 anos para que o desejo se tornasse realidade e a gente insiste em apressar o tempo, apostamos com Deus que conseguiremos fazer no nosso tempo. Mas Deus já nos avisou: Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de se afastar;
tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora;
tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de silêncio, e tempo de falar;
tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e há tempo para a paz.
Na prática, Dr. Ricardo ratificou as palavras de Deus em seu dia-a-dia:
“Foi no momento certo. No Ministério Público fiz mestrado, doutorado, integrei a comissão da ONU para os direitos dos deficientes, enfim, tudo tinha uma missão para me preparar para a magistratura”, revela.

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Cultivar a esperança e ter gratidão
Ao enfrentar preconceitos, especialmente na área jurídica, Dr. Ricardo diz que ele é fruto de tudo que é bom e ruim do Brasil. “As coisas são dialéticas: nada é totalmente bom e nada totalmente ruim. Eu sempre acreditei no lado bom das coisas e procurei cultivar a esperança em mim e nas pessoas”, ensina.
Em seu discurso, outra marca do magistrado foi a gratidão e aí o brilho no olhar cegou a todos de emoção ao se referir – imaginem – à professora do primário e à mulher como musa e esposa. “Era muito bonito o que as professoras do primário faziam. Copiavam à mão as letras maiores para eu poder ler e era mera dedicação. Tenho um carinho muito grande pelo Instituto Educacional Joao XVIII de Porto Alegre e que me mostrou que a limitação poderia ser superado por métodos adequados”, relata.
E por falar em limitação, até parece que o juiz estava adivinhando que eu precisava de um fechamento para a coluna. E aí vão as palavras dele sobre o assunto: “Não acredite no limite que querem impor os que não te conhecem. O potencial é divino”.
Que isso lhe sirva como ensinamento – para mim e todos que me dão o privilégio da leitura. Que assim seja.

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DICAS
O presidente da Microsoft Brasil, Michel Levy, assinou protocolo de intenções com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para desenvolvimento de novos cursos na área de informática.

A 11ª edição da Olimpíada Brasileira de Física terá concorrentes paranaenses. Isso porque 26 alunos do Ensino Médio do Colégio Acesso foram aprovados na 1ª fase. Eles seguem para as provas da 2ª e 3ª fases. Quem for campeão segue para as Olimpíadas Internacionais de Física no Chile. Boa sorte!

A AMCHAM realiza nesta quinta-feira rodada de negócios das 18h às 21h. Será no Club Gourmet (Av. Pres. Getúlio Vargas, 2591. Informações e Inscrições | (41) 2104-9350 ou [email protected]

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Frases

Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.

Albert Einstein

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