As prateleiras das livrarias e das bancas de jornais estão recheadas de
afirmativas do tipo “conquiste seu primeiro milhão”, “saiba como chegar
ao topo antes dos 40”, “o que você precisa para ser líder” e por aí vai.
Mas diga: quantos dos que se formaram com você na faculdade ocupam hoje
postos de alto executivo ou de liderança? Quem se transformou no Chief
Executive Officer (CEO)?
Não me refiro nessa coluna à saudável ambição de querer evoluir na
carreira, na vida pessoal, nas finanças… No entanto, essa busca que
está mais para cachorro correndo atrás do próprio rabo causa pavor nos
profissionais que não se encaixam no perfil de líder. E fica a sensação
de que, se não sou líder, não sou ninguém no mundo corporativo.
As lideranças, aqueles que chegaram ao dito “topo”, pode ter certeza
que dariam de tudo para não ter essa carga para carregar nos ombros.
Porque, convenhamos, dê uma olhada ao seu redor: gerenciar pessoas não
é uma das tarefas mais fáceis para quem precisa gerar resultados e dar
conta de faltas do funcionário, desinteresse, apatia e gente que está
ali sem saber exatamente por que…
As formiguinhas que carregam piano
Ao contrário do dessas megafiguras do alto escalão executivo, o mundo é
formado, em sua maioria, por nós, as formiguinhas, que dão conta da
tarefa pesada em todos os ramos de atividade. Seja o vendedor, o
representante farmacêutico, a recepcionista, o motorista, o
publicitário, o design, a agente de viagem ou o consultor, todos estão
ali para cumprir seu papel da melhor maneira possível e com eficiência.
Encerrada essa etapa, as formiguinhas podem descansar, colocar a cabecinha no travesseiro e ter uma noite de sono.
Já o executivo, cargo tão almejado pelos mortais, estão a se debruçar
em planilhas, planejamento, reuniões, definição de metas, análise da
concorrência. E essa atribuição não é para todo mundo. Aliás, o que
seria do universo se todos fôssemos líderes sem as formigas?
Gratidão
Assim, os profissionais que, de acordo com o que se massifica, estão
marginalizados por não pertencer a esse clã chamado líder, precisam ter
a gratidão de reconhecer a posição que se encontram e elevar as mãos
aos céus.
A liderança não está só ao alcance dos que são CEOs. É possível ser
líder sem ter cargo. Isso mesmo, ser uma pessoa carismática, educada,
que trabalha em equipe e que respeita o colega são qualidades de
líderes. Quem tem sabe que não é preciso ostentar um título para ser
respeitado e ter acolhida sua opinião.
A fascinação que pessoas especiais, líderes na essência, exercem sobre
as outras está diretamente relacionada à bondade, à correta postura
ética e à coerência de ideias e conceitos. Num mundo em que se defende
“malhar” o chefe, ser bom é um defeito, um desvio de caráter. Ser ético
é virar motivo de piada.
Mas, como acredito que o padrão defendido em vários segmentos anda
distorcido, ouse ser diferente, ser honesto, criar um ambiente
agradável no trabalho, dar bom dia ao entrar no elevador… São esses
pequenos gestos que estão por trás das formiguinhas líderes.
Nem sempre quem está no poder é líder
Observando o comportamento, é possível identificar que muitas pessoas
hoje no comando se intitulam líderes. O alinhamento dessas duas
características é algo difícil de encontrar. Como exemplo, cito o caso
de Tania Mary Gomez, presidente do Instituto Humanista de
Desenvolvimento Social (HUMSOL), uma ONG da qual sou voluntária.
Sem cometer nenhum exagero, ela consegue agregar liderança e chefia ao
mesmo tempo. Dia desses, numa reunião do grupo, saiu apontando e
delegando funções e tarefas para os liderados que vão agora ter
atribuições de coordenar projetos.
E deu um medo geral na sala quando todos ficaram olhando para os lados
para saber quem levantaria o dedo primeiro… Não deu outra: na
ausência de coragem, atributo de líderes e não há nenhum mal em se
admitir falta disso, Tania foi nomeando um a um os coordenadores de
projetos nas áreas de violência doméstica, meio ambiente e por aí.
Assim como o líder, Tania sabe que não faz nada sozinha, mas conta com
uma equipe e faz o papel de dar aquele empurrãozinho para, quem sabe,
encontrar novas lideranças. Por que não?!
O liderado de hoje pode ser o líder de amanhã. É um aprendizado, mas
que exige também vontade, ou seja, estar na posição porque sente um “t
grande” pelo que se faz, independente do ônus que virá. E virá…
A escolha cabe a você
O consultor e escritor Jerônimo Mendes afirma que muitas pessoas o
procuram com dúvidas por terem sido alçados a cargos de liderança sem
saber por onde começar.
Veja se a liderança lhe interessa ou prefere ser a formiguinha feliz:
“Liderança vai além. Exige sangue, suor, lágrimas, dedicação,
estratégia, vocação, equilíbrio, transparência e acima de tudo,
predisposição para lidar com gente difícil, invejosa, sem muita noção,
com muita noção, insegura, melindrosa, insubordinada, maldosa e
coitadinha. Com um pouco de sorte, pode-se encontrar boas pessoas nas
equipes também, dispostas a aprender, contribuir e fazer parte do time
em vez de querer puxar o seu tapete. De acordo com estudos realizados
por Robert Goffe e Gareth Jones, da Harvard Business School, os quatro
mitos mais populares sobre liderança já foram derrubados: (1) nem todas
as pessoas podem ser líderes; (2) líderes nem sempre levam a
resultados; (3) pessoas que chegam ao topo não são, necessariamente,
líderes e, por fim, (4) líderes nem sempre são grandes coaches (bons
condutores de equipes). As condições que favorecem a liderança podem
ser as mais inexplicáveis possíveis.