Desde que esta coluna começou, uso a mesma configuração de documento para escrevê-la. Toda semana. No começo era no Word (quem lembra daquele clipe que ficava dando ordem pra gente no canto inferior da tela? Era no Word , não era?), agora no Docs. Mas a carinha do texto é igual: 2,5cm de margem pra cada lado, 2,5cm no topo e no rodapé, a fonte é a Cambria, tamanho 11, e o espaço entrelinhas, claro, é duplo. O Docs doido pra eu usar Arial, que nem o Word, mas eu gosto das serifas da Cambria. Pra mim, ela é uma fonte gente boa, honesta, limpinha – acabou de tomar banho inclusive, usa lavanda de criança e passa fio dental de manhã e de noite.

A Cambria foi projetada em 2004. Uma encomenda da própria Microsoft para o designer holandês Jelle Bosma, que contou com a colaboração de Steve Matteson e Robin Nicholas. A ideia era a de que ela mantivesse a legibilidade na impressão mesmo que em espaços pequenos.

Eu acho curioso pensar que embora eu escreva com essas serifinhas cheirosas e legíveis aqui na minha tela há anos, vocês me leem com outra fonte por aí. É quase a ilustração perfeita de como se dá a comunicação, né? Tem o que um diz, tem tudo que mora apertadinho no inconsciente desse um, tem o que ele queria dizer mas às vezes não consegue, tem o que ele não queria dizer mas às vezes sai. E tem o que o outro escuta, o aperto no inconsciente do outro, a cerinha do ouvido. A mensagem, coitada, se arrebenta inteira no meio do caminho.

Tudo isso pra dizer que essa noite tive uma câimbra. Mas uma câimbra tão gigantesca. Gigantesca como eu nunca tinha tido. Se me dissessem que a dor pararia caso eu desse a minha perna em sacrifício, juro a tu que eu dava. Dormia com meus dois gatinhos (que são gatinhos mesmo, tipo Pet assim, pra vocês não irem me tomando de animada em plena segunda-feira, embora, minha gente, cada um com seu cada um) quando me saiu um choro de bebê com cólica às 6h da tarde. Os gatos horrorizados e eu tentando explicar repetia: meu Deus, que Cambria. Ai, que Cambria. Pois hoje, vou mandar o texto em Arial pra pedir desculpas a Jelle, Steve e Robin. Amo a fonte de vocês, mal aí. Boa semana, queridos. E comam banana.