Há uns 6 ou 7 anos, quando minhas filhas e meus sobrinhos eram ainda pequenos, tive uma ideia que a princípio me pareceu interessante. Imprimi uma foto de cada um deles em uma camiseta, cortei somente a área impressa, acolchoei e costurei no formato de uma almofada.

Era um recado. Um convite a substituir os ursinhos que os acompanhavam à noite e adotar a mini versão deles mesmos como protetor de seus sonos. Apesar de incentivar as crianças a pedirem ajuda, as encorajo também a confiar na sua própria força. Não estou sozinho, estou comigo, dou conta. Gosto de quem que gosta de (e põe fé na) sua própria companhia.

Digo acima que a ideia só me pareceu interessante porque quando entreguei os bonecos/almofadas optei por não dar esse texto para os quatro ainda tão novinhos. Imaginei que a metáfora era boa o suficiente. Eles gostaram do presente, claro, acharam graça e partiram para a próxima brincadeira. Fui ingênua.

Era o que pensava até receber o telefonema de meu sobrinho na semana passada. Ele me disse ao telefone que sua almofada já andava velhinha e que, se eu pudesse, ele gostaria de ter uma versão atualizada, com uma foto mais recente. Sua irmã e minhas meninas ao ouvirem o pedido fizeram coro no desejo da revisão.

Uma surpresa rica e interessante. O menino de boné na cabeça e bochechas rosadas do passado já não o representa mais. Não é a este que ele recorre, não é com ele que conta. Mas com a sua versão atual. Crescido, seguro, o suficiente inclusive para ligar e pedir uma ajuda. O recado foi dado. Talvez a metáfora fosse mesmo boa o suficiente.

 

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessàveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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