Você abre a porta, tira os sapatos, ainda no corredor, senta no sofá na pior de suas posturas e suspira aliviado. Está em casa. É ali, que é possível abrir o botão da calça depois do jantar, tomar banho com a porta aberta e seguir de pijamas até o meio dia de sábado. Se não é, deveria.
É preciso que se tenha esse lugar. Um lugar para ser em versão completa, sem filtros. O exercício de fazer da casa um intervalo na agonia do mundo, nos sinais quebrados, nos dias de chuva quando se esquece o guarda-chuva, no escritório de um trabalho que já não alegra, na reunião que você preferia não estar, é grande, importante. Repõe o fôlego para o programar e desprogramar do despertador. Claro que é. Embora a psicanálise nos ensine que aquela outra muito engraçada, que não tem teto, não tem nada é a casa que deveria estar na nossa mira.
Obstáculos para conquista-la não nos faltam a começar pelo maior deles, ela não tem chão. Ainda assim com dois nãos na frase que sugere entrada, a casa sem paredes merece visita. A casa sem parede somos nós. E sem parede não significa sem limites com o mundo, mas com a possibilidade de ser versão completa até na agonia do mundo. Somos um lugar. E é preciso que se ocupe esse lugar. Mala, cuia, fotos na parede, cachorro e gato.
O convite para agosto que marca a metade do ano, a metade de um caminho é fazer do meio começo. Abrir a porta, entra e ficar. Cada vez mais presente, cada vez mais botão desabotoado, cada vez mais em casa.
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