Ninguém sabe de tudo (nem eu e nem você)

Roberta D’Albuquerque | robertadalbuquerque@gmail.com

Solucione o problema e corrija o enunciado se necessário. Era a primeira frase da lição de matemática que minha filha mais nova concentrava-se para responder hoje cedo. Tentou achar solução possível sem trair a certeza de que o que é oficial (o que vem de fonte segura – a professora) não carece de correção, mas acabou por canetar o papel. E com tinta vermelha para garantir o pacote completo.
Naturalmente que o equívoco da lição era proposital. Tenho 56 canetas e sete estojos, quero dividi-las em quantidades iguais, de quantos estojos eu preciso? Estão lançadas aí duas dificuldades que são para mim absolutamente ilustrativas de nosso tempo: 1. Tem nos interessado dividir em partes iguais? 2. Em que medida naturalizamos a prioridade da quantidade de estojos em detrimento da quantidade de canetas? 
Que exercício interessante esse, não? Para além da divisão, operação sobre a qual dedicam a atenção neste semestre, está posta na tarefa a abertura para a dúvida, mais do que isso, esta posta a notícia de ouro: o erro é democrático. Dos professores, aos pais e alunos, erramos todos.
E já que ninguém sabe de tudo, questionar é preciso. Propor reparo e para tanto oferecer as suas ideias, pôr à prova um raciocínio capaz de não somente apontar o erro (que pode inclusive ser o seu), mas de dar conta de uma equação. Que ultrapasse os enunciados e se torne um hábito. Faz-se urgente.
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