Desde que instalou o monitor de passos no telefone, estabeleceu consigo uma competição. Protagonizam a disputa o “eu” de ontem e o de hoje em um combate apertado e cheio de provocações. O de hoje vem ganhando, claro, uma vez que o de ontem só precisava bater o do dia anterior. Ocorre que a instalação se deu na segunda. De lá até a quinta, os dias foram todos parecidos e, alguns passos a mais vinham cabendo na agenda sem grandes sacrifícios.

Assim, ela acreditou que a curva ascendente se manteria com folga em progressão infinita. Foi estabelecendo desafios cada vez mais afoitos à medida que corriam os dias. Já na quarta dobrou as saídas para caminhar. Na quinta, depois da academia, inventou uma segunda ida ao supermercado para buscar um leite que esquecera na primeira. E, que surpresa, o ovo acabou ficando na esteira do caixa, por que não voltar uma terceira vez? Ria sozinha do próprio autoengano.

Aí veio o feriado e, com ele, um milhão de oportunidades. Uma filha para buscar na casa da amiga da escola; foi andando. Uma outra filha para levar para passear; a menina na bicicleta e ela a pé. Uma noite fresquinha com as crianças já na cama; e mais alguns – muitos – passos pelas ruas do bairro. Ganhava, dobrava a meta, ganhava e triplicava. Mais e mais estrelinha a saltitar na tela do celular: “parabéns, você isso!”, “parabéns, você aquilo!”.

A questão é que mais obstinado que o “eu” do dia seguinte só mesmo as segundas-feiras – essas teimam em chegar toda semana. E com elas o trabalho, as horas sentada na poltrona, e os pezinhos – que vieram hoje de tênis – parados, mas loucos para sair por aí. Até agora 2352 passos, contra 33670 do domingo e 29904 do sábado. Até agora, sem nenhuma estrelinha. Até agora! Boa semana queridos.

Ps: Instalem um monitor de passos no celular. A briga é das boas, prometo.

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