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Filhos pós-separação a hora do joio e do trigo

Bem Paraná

Com ou sem conflito, com ou sem certeza, mas indubiltavelmente com dores, a separação ganha novo impasse quando o casal tem filhos. Não imagino um casal não pesar (e muito) o destino e a condução desse processo sem pensar nos filhos. A realidade da família desfeita vai tomar outro rumo e como fazer para minimizar esse dano da ruptura, perda, mudança?

A psicóloga e terapeuta familiar Rosicler Santos Bahr diz que os filhos geralmente percebem esse momento do fim de relacionamento de seus pais, algo que não desejam, apesar de não existir uma regra, o ideal seria que esse comunicado fosse feito por pai e mãe. Apresentar a ideia gradativa para os filhos os prepara para o impacto da separação, afinal de contas nenhum filho almeja a separação dos pais. Na prática, se o pai saiu de casa, e ele não procurar com frequência os filhos ou não fazer real movimento para encontrá-los, estará comprovando que ele se separou da mãe e dos filhos, o que causará muita dor, explica Rosicler.

Entretanto, administrar a dor individual e ainda a dos filhos não é tarefa fácil e nem as dicas mais preciosas podem blindar esse delicado momento. A professora Gislene Lobo, de 39 anos, passou por essa experiência e avalia aspectos como culpas, brigas e diferenças. Ela tem um filho de 16 anos, Ítalo Pelissari Grande. Quando se têm filhos e relacionamento que vai mal pesa mais, a gente pensa se nãopode relevar mágoas e diferenças, sente culpa por não corresponder à felicidade que o filho merece; afinal ele nunca mais dará bom dia na cama para os dois, se aninhar no meio, essas coisas. Isso torna a decisão ainda mais difícil, o que acaba provocando mais brigas e todo mundo acaba machucado. O meu maior medo foi ser culpada pela separação. Por meses meu filho ficou sem falar comigo, e sempre que nos víamos, os olhos dele estavam lá “destruidora de sonhos”. Foi uma fase muito difícil e acabei pedindo a ajuda de um terapeuta que atendeu meu filho e ajudou bastante, mas quando o terapeuta chegava à culpa do pai…afinal os dois erraram..meu filho não aceitava – relatou Gislene.

Sobre as tarefas – Supondo que não haja mais conflitos do que os normais, que cada qual definiu seu status, como ficam as tarefas de educação do filho? A terapeuta recomenda que essa discussão seja conjunta e preferencialmente antes da separação ser concretizada. Guarda compartilhada ou individual, finais de semana e qual a frequência, visitas durante a semana, datas significativas como aniversários e Natal.

Mas, o mais importante também será a busca de um modelo mais similar de educação e manejo de problemas, como por exemplo quando as orientações dadas não forem cumpridas pelas crianças, qual será a consequência. Assim evita-se que as crianças desenvolvam uma noção que o pai é bonzinho e a mãe é má, porque cobra, exige determinados comportamentos, quer resultados escolares e assim por diante – orienta Rosicler.

Depois de brigas, desentendimentos e já passados cinco anos da separação, Gislene revela que agora os acordos são respeitados. Todos aprendemos muito e começamos a lidar com as coisas de maneira mais natural, nossa guarda é compartilhada e sempre tomamos as decisões juntos . Apesar de eu ainda ter certo distanciamento do pai do meu filho, conseguimos ser sociáveis. Já minha relação com meu filho melhorou muito fiz terapia para lidar com a rejeição dele. Agora temos um relacionamento que voltou a ser terno e amoroso. Atualmente ele mora com o pai em outra cidade por força de seus objetivos ligados ao futebol, mas nos falamos diariamente com direito a muito choro e eu te amo na falas!. Encerra Gislene em seu depoimento.

A pretensão não é dar receita de bolo, mas dicas de uma profissional merecem atenção:

Sobre crianças que se sentem culpadas pela separação – É preciso que os filhos ouçam inúmeras vezes seus pais falarem que eles não têm nenhuma culpa nesta decisão da separação, e que os pais não serão mais namorados, mas que irão amar os filhos incondicionalmente e eternamente. O casal deve garantir que as crianças frequentem a casa de ambos.

A escola deve ser avisada sobre o ocorrido? – Sim, desta forma a escola poderá ficar mais atenta às mudanças de comportamento da criança caso ocorra e poderá solicitar aos professores que, possam ser mais compreensivos e próximos da criança em momentos de necessidade.

Como perceber se a criança está sendo afetada pela separação além do normal – Medos noturnos, comportamentos e atitudes como se estivesse em uma fase cronológica inferior, isolamento, perda ou excesso de apetite, redução no desempenho escolar, choro constante, descontrole dos esfíncteres, dificuldade em manter-se longe dos pais, agressividade.

A psicóloga Rosicler ainda ressalta que um dos aspectos fundamentais será os pais evitarem criticar o ex-cônjuge na presença dos filhos, para que eles possam ter uma relação sadia com ambos. E, uma crise como esta poderá trazer dor, mas poderá também ser uma oportunidade de crescimento pessoal para todos, fortalecendo os laços entre pais e filhos, entre irmãos e também com as famílias de origem.

Ronise Vilela é jornalista por opção e mãe por natureza. Sugestões podem ser enviadas pelo e-mail ronisevilela@globo.com