Mãe de menino, mãe de menina, mãe de menino e menina – tem diferença?

Por Ronise Vilela - ronise@bemparana.com.br

Tem. É inegável que o sexo do filho influencia nosso modo de educar. Eu achei que seria mãe de menino. Sou mãe de menina e acho isso uma providência divina. Confesso que seria uma espécie de mãe judia. Não suportaria, por exemplo, ouvir meu filho elogiar o empanado de frango congelado da namorada, sabendo que faço um delicioso macarrão com frango e legumes.

E mesmo com a mais moderna tecnologia, as mães de meninos parecem sempre fazer o serviço deles, em prol de um comodismo ou um machismo velado de que eles se virem sozinhos. Por exemplo, se o filho homem não arruma o quarto e vai fazê-lo, a mãe diz deixa que eu faço, você faz tudo errado, enquanto a mãe de menina insiste para que ela faça até aprender.

O comportamento geral das mães de menino quando este leva um fora da namorada é acusá-las de culpadas, de não saberem valorizar seus amados pimpolhos. Entretanto, se é a menina a rejeitada da relação, as mães não deixam que elas se abatam, pois nenhum home vale suas lágrimas e cria nela uma resistência, não uma condição de vítima. Sob meu ponto de vista, ainda acho que meninas são criadas para ser mais independentes, contudo, sob o verniz da maternidade e resiliência e os meninos, eternamente meninos.

Diferenças
Ao longo dos anos torna-se ainda mais visível esta diferença, segundo a psicopedagoga Soraya Souza Costa. Meninos jogam bola, sobem em árvores, soltam pum, arrotam quando têm vontade, deixam as roupas espalhadas, o quarto em desordem, podem sair e voltar tarde para casa, isso tudo sob a aprovação dos pais. Já as meninas são treinadas a vestirem-se impecavelmente, aprenderem boas maneiras, ajudarem na organização da casa, terem boas notas e coisas que no passado, as suas bisavós faziam e que como receita de família, também acabam por aprender. Ou seja, existe sim diferença na educação de meninos e meninas e mesmo havendo exceções no comportamento de muitos pais com relação a forma de agir, a grande maioria treina seus filhos para uma sociedade que distingue perfeitamente o que são tarefas apropriadas a homens e mulheres, conclui.

Um novo universo
A empresária Flávia Bley, mãe de Davi, 8 anos, disse que tinha certeza absoluta que teria um menino, quando foi buscar o resultado da ecografia. Eu nunca me imaginei sendo mãe de menina. Na verdade não sei se meninos e meninas são diferentes quando bebês, mas assim que começou a andar, ficavam bem óbvias as características masculinas como agarrar qualquer graveto na rua e sair andando e batendo o graveto no chão. Davi teve fases de interesses muito fortes e na verdade ele continua assim até hoje. Primeiro os dinossauros com 3 anos e então ele sabia dizer o nome de mais de 100 espécies. Depois uma fase breve de super-heróis que eu achei a maior chatice, mas logo depois veio o universo Harry Potter que durou dos 4 até os 6 anos de idade. Com Harry Potter veio a leitura, o cinema de adulto (o que ele chamava os filmes que não são de animação) e o mergulho na fantasia. Depois Tintim, e a leitura de toda a coleção do Hergé que abriu as portas para o mundo politicamente incorreto, pois precisei ensinar a ele o que era drogas, contrabando e escravidão. Mais recentemente chegou o futebol que era um universo que eu tinha o maior prazer de não participar. Agora estou tendo o enorme prazer de torcer para um time e acompanhar meu filho e meu pai nos estádios. Sinto que agora ele desgrudou mais de mim e começou a querer mais a companhia do pai e do avô e então já me preparo para os anos que virão, quando ele arranjar uma namorada, casar e escolher a família da esposa como sua família principal. Pois dizem que ser mãe de menino é assim… eles vão embora. Mas enquanto ele for meu, aproveito todos os minutos, definiu Flávia.

Dos dois jeitos
Luciane Pavloski, de 40 anos, tem um casal de filhos. Caroline de 10 anos e Kaique de 8. As lembranças da infância são inevitáveis. As bonecas já não são as mesmas, mas a sensação é igual. Lembrei inúmeras vezes em que usei sapatos de salto de minha mãe e, ela por sua vez, me chamou atenção. Usei maquiagem, borrei todo o batom vermelho, coloquei vestidos, escolhi as melhores bolsas e fui passear. Tudo o que minha filha fez. Hoje em dia é a minha sombra, não me perde de vista nem pra eu ir comprar pão. E as compras? Nunca vi como gosta de fazer compras. Coisas de mulher! Mas e de menino? Não tenho passado de menino, embora tenha convivido entre eles. Então percebi que tive que aprender o nome dos super-heróis, aprender a jogar futebol de botão, fazer pistas de corrida para os carrinhos, aprender a jogar futebol e ter pique para correr, correr e correr. Amo meus filhos incondicionalmente e quando cada um deles me olha e me diz eu te amo!, analisou.

Soraya Souza Costa atua no Sesc Centro PR como responsável técnico pelo eixo educacional do Comércio em Movimento e Educação Complementar

Ronise Vilela é jornalista por opção e mãe por natureza. Sugestões podem ser enviadas pelo e-mail ronisevilela@gmail.com