
Primeiro foi a ameaça de um vírus. Por vários meses, as crianças foram impedidas do convívio social, de encontrar colegas e professores. Num cenário de pandemia, elas foram consideradas “potenciais vetores da doença”. Cinema, teatro ou apenas circular pelas ruas tinha se transformado sonho de consumo pros pequenos cidadãos que, na maioria das vezes, não conseguiam assimilar o contexto de tudo o que se passava ao redor deles.
Agora vem a ameaça do medo, da violência, que é capaz de surgir do nada e atacar os pequenos dentro da escola, da sala de aula, justamente num local tão importante de pertencimento da infância. O espaço de brincadeiras, aprendizagens, educação passa a ser visto como uma ameaça algoz e fortuita.
Viver está sendo bem complicado nos últimos tempos. E, se continuarmos assombrando as crianças com a vida real adulta, estaremos com todos os recursos em mãos pra formar a geração do medo, dos transtornos e da insegurança. Vai faltar psicólogo, psiquiatra e psicotrópico no mundo.
A cultura de paz, do amor e da não-violência começa dentro de casa. Pais, familiares e educadores precisam ser parceiros na busca de soluções que possam formar cidadãos livres, seguros e corajosos. Que, no futuro, possam se posicionar e escolher o que querem pra si e pro outro. E que esse querer busque o melhor pra coletividade.
O que precisamos evitar é a histeria coletiva, a cobrança de gestores e das escolas por posicionamentos e estruturas de segurança que servem, antes de mais nada, pra acalmar pais que optam por embarcar em ameaças desconhecidas propagadas pela internet, com o objetivo de blindar os rebentos das incertezas do mundo, virtual e real.
Que pai ou mãe não quer garantir a segurança e a estabilidade dos filhos? Eu também queria ter essa solução pronta. Não tenho. Meus amigos também não e não sabem me dizer onde compra. Nem mesmo o colégio dos meus filhos encontrou essa fórmula mágica.
Essa é uma construção social que precisa ser trabalhada no cotidiano, a partir do diálogo, da democracia, da busca por igualdade social.
O pânico e a histeria geram mais medo, as pessoas parecem ensurdecer e passam a acreditar cegamente em informações repassadas sem nenhum critério ou o mínimo de bom senso. E, pra piorar, têm o poder de gerar o efeito de gatilho, incentivando novos episódios similares, como estão alertando os especialistas.
Se a sociedade não buscar uma solução conjunta, em parceria entre todos os setores, daqui a pouco vai ter gente defendendo a adoção de treinamentos e divulgação de técnicas de guerrilha pros estudantes. Psicopatas e sociopatas precisam de tratamento mental. Malucos em geral querem plateia e não sou eu que vou pagar esse ingresso!
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, mãe, brasileira e não desiste nunca.