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Numa sociedade profundamente instagramável, em que a felicidade precisa ser postada pra ser factível, é proibido sentir tristeza. Sensações negativas, desânimo ou qualquer sentimento do gênero só são permitidos nos consultórios. E olhe lá! De preferência, no do psicólogo.

Prova disso é ver a quantidade de coachs, mentores, gestores da felicidade alheia e afins falando diariamente sobre atrair boas energias e se manter em estado de plenitude.

Se até Jesus sentiu tristeza – sim, há várias passagens bíblicas que comprovam que o filho de Deus ficou triste. Se não lembra, vá ler o Evangelho! – por que nós, pobres mortais, precisamos estar sempre alegres e na onda “good vibes” eterno? Pelo menos é essa a sensação que tenho diante das exigências do mundo atual?

Vivemos a era do cancelamento dos sentimentos considerados negativos. No Instagram, TikTok ou qualquer outra rede social, a regra é simples: fotos coloridas, com festas, viagens, pessoas perfeitas – nem que seja na base de muito filtro! E quem não se enquadra nesse padrão, não existe. É cancelado. Não ganha likes. Não gera engajamento.

Há uma grande distância entre ser triste e estar triste. A tristeza constante pode ser reflexo de vários problemas, inclusive questões de saúde mental, como a depressão. E aí é necessário ajuda e orientação profissional.

A Língua Portuguesa define de formas bem pontuais os verbos “ser” e “estar”. Bem diferente do que ocorre com a Língua Inglesa, na qual o verbo “to be” é usado pra descrever as duas situações. Então, se até o idioma nativo nos dá condições de diferenciar esses momentos, por que não usar os verbos – e os sentimentos – adequadamente, já que eles existem e não adianta negar?

Na vida real – categoria na qual me encaixo –, às vezes, as pessoas acordam cansadas, com preguiça, nadando contra a corrente. Tem dias que o mau humor se mistura às atitudes do grosseirão no trânsito logo cedo, transformando tudo em caos. Porém, há aqueles que o sol acorda animado, a música preferida toca logo cedo na rádio e o sorriso nem briga pra se manifestar. Vida que segue e isso não tem nada a ver com bipolaridade. É apenas a vida real.

Não dá pra cultivar a tristeza, o mau humor e o azedume diariamente. Assim como não acredito em que está eternamente alegre. Impossível ficar contente depois de torcer o pé, levar um fora ou perder o emprego. Vivenciar os momentos de tristeza é fundamental para superá-los e seguir em frente. Negá-los, fazendo de conta que não existem, nem a Disney faz mais. O mundo, cada vez mais, pede gente de verdade.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e, às vezes, é chamada de “polaca azeda”.