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Se a gente soubesse quando seria o último sorriso, teria lembrado de tantos motivos pra agradecer e esquecido dos poucos pra reclamar.

Se a gente soubesse quando seria o último abraço, teria chegado mais perto, sentido o perfume do outro, a maciez do cabelo e a textura da pele.

Se a gente soubesse quando seria a última festa, teria dançado até o sol nascer e escondido os brigadeiros no bolso pra comer sozinho no dia seguinte.

Se a gente soubesse quando seria a última partida de futebol, teria se preocupado menos com o resultado e mais com as piadas depois do jogo.

Se a gente soubesse quando seria a última viagem, teria perdido menos tempo pensando no destino ou fazendo fotos pras redes sociais e aproveitado pra curtir ao máximo as companhias e os momentos tão únicos.

Se a gente soubesse quando seria a última música, teria prestado atenção a cada acorde dos Beatles, sentido as emoções do Roberto, vibrado a cada performance do Ney e se emocionado com o show de despedida do Milton.

Se a gente soubesse quando seria o último livro, teria lido Drummond, Neruda, Allende, Murakami, Leminski, os manuais de autoajuda, os guias de como se tornar milionário e ou de como se transformar num tiktoker de sucesso.

Se a gente soubesse quando seria a última refeição, teria caprichado na feijoada, feito a caipirinha com a melhor vodca e não deixaria faltar farofa e banana à milanesa.

Se a gente soubesse quando seria o último filme, teria investido na pipoca cara do cinema, escolhido a melhor poltrona e acompanhado até o último crédito na tela.

Se a gente soubesse quando seria o último passeio, teria reparado mais nas flores do caminho, no balançar das árvores, na cor do céu e no impacto que cada estação do ano provoca na natureza.

Se a gente soubesse viver mais no presente, deixasse de lado o pretérito imperfeito do subjuntivo e esquecesse o futuro do pretérito, necessitaria de menos medicamentos pra ansiedade, teria menos diagnósticos de depressão e viveria mais feliz.

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e tenta conjugar a vida no presente.