A vida não pode ser editada

Vídeo com dor de dente não dá engajamento, lugar feio não atrai like, gente triste não conquista seguidor

Danielle Blaskievicz
vida editada

Se a vida fosse um filme (Foto: Marcello Casal Jr/ABr)

Já pensou se a vida fosse um filme ou um vídeo pra rede social, que permitisse edição antes de ser publicado? Você é do tipo que ia preferir o estilo documentário, quanto mais realista melhor, ou ia se aproveitar todos os recursos que a linguagem audiovisual oferece pra “aparecer bem na fita”?

A julgar pelo sucesso de alguns segmentos de influenciadores digitais – como moda, estilo de vida, turismo e gastronomia – arrisco dizer que, se essa possibilidade existisse, viveríamos, pra sempre, com Alice, lá no País das Maravilhas.

Vídeo com dor de dente não dá engajamento, lugar feio não atrai like, gente triste não conquista seguidor.

Não vejo ninguém postar foto quando está com a autoestima no dedão do pé ou quando vai fazer excursão pela periferia pra visitar a tia-avó do novo namorado. Ou, ainda, quem é que registra a notícia do diagnóstico de pereba aguda que acabou de receber com o objetivo de divulgar e compartilhar com a galera?

Tem gente que rasga as fotos com o ex, não tira foto sem maquiagem, acima do peso ou com o cabelo desajeitado. Tudo pra não lembrar de momentos em que as coisas não estavam como gostaria. Seja por dentro ou por fora, tanto faz!

Ana Hickmann, que na última semana foi agredida pelo então marido e empresário Alexandre Correa, apressou-se pra apagar várias fotos com ele em seu perfil. Também nos últimos dias, o álbum de fotos da cantora Wanessa Camargo com o ex-marido Marcus Buaiz foi encontrado numa lixeira de Goiânia. Ninguém entendeu ou explicou coisa alguma.

É possível editar o feed do Instagram, o filtro de uma foto, a sequência de um filme. Trocar a trilha sonora, acelerar o ritmo pra aumentar ou aliviar a tensão.

Porém, não é possível editar os fatos porque a vida não é uma sequência lógica, editável. Como disse Herbert Vianna, “a vida não é filme, você não entendeu, ninguém foi ao seu quarto quando escureceu”.

Sem roteiro programado e uma mesa de edição preparada, fica por conta de cada um escolher se quer protagonizar um filme de ação no melhor estilo Mad Max; uma comédia romântica, um conto de terror ou uma pornochanchada. Só não pode esquecer: na vida real, é luz, câmera, ação e nenhuma edição!

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e adora comédias românticas, mesmo sabendo que elas não são reais