cronicas
(Pixabay)

Se o Brasil fosse item de supermercado, estaria na prateleira dos itens com data de vencimento próxima: bonito por fora, azedo por dentro. Cadê a terra do samba, futebol e caipirinha gelada? A embalagem continua colorida, com selo de qualidade, mas o conteúdo fermentou.

Nos últimos dias, pelo menos 59 pessoas foram vítimas de bebidas adulteradas com metanol. O número, no entanto, vem crescendo em ritmo de progressão geométrica. “Gente como a gente”, que só queria brindar, aliviar a vida dura com um gole e acabou intoxicada por um veneno servido em copo de ilusão gelada.

O brasileiro não tem paz nem na mesa do bar. Você chama o garçom, pede uma dose e confia no rótulo, no lacre, na marca. Mas a realidade te entrega metanol com gelo e rodízio de UTI. Bebidas adulteradas no Brasil viraram o novo reality show da sobrevivência. Sem prêmio, só tragédia.

Só que no prontuário desse país doente tem muito mais. Tem remédio com composição duvidosa, perfume com álcool de posto de combustível, carne maquiada com DNA vencido e leite temperado com soda cáustica. Parece ficção, mas é filme trash baseado em realidade aumentada.

Salão de beleza e clínica de estética viraram zona de guerra química. Tem botox em embalagem com glitter e promessas de rejuvenescimento que entregam boletim de ocorrência. O povo quer apagar o pé de galinha, mas corre risco de apagar a própria vida.

Na política, o cenário não muda muito. Na Câmara dos Deputados, fraudes e negociatas passam com mais facilidade do que projetos urgentes de saúde pública. A velha política faz cosplay de nova, embalada nos discursos dos “cidadãos de bem”, que arrotam valores que nunca colocaram em prática. Terreno fértil pra família golpista que já virou sinônimo de produto tóxico. Se existisse bula, viria o aviso: “efeitos colaterais incluem retrocesso, intolerância e abuso de poder”.

A boa notícia é que a esperança brasileira não é adulterada. Ela é feita em casa, com fé, teimosia e um senso de humor que só quem vive aqui entende. Mas até ela precisa de recall, porque rir virou técnica de sobrevivência. E o riso, às vezes, é só um grito disfarçado.

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e não bebe quando vai dirigir.