
Dia das Mães batendo à porta e essa semana aprendi uma lição radical com os meus filhos: nem todo mundo merece a nossa bondade! E nós, mães modernas, descoladas, autossuficientes, justas e empáticas, não devemos exigir que eles sejam bons e complacentes o tempo todo. Há muita gente má e eles sabem disso. De antemão, estão evitando traumas desnecessários e inúmeras sessões de terapia no futuro.
As mães do Século 21, categoria da qual faço parte, vêm sendo formadas no mundo do politicamente correto. É necessário ensinar empatia pras crianças pra garantir o desenvolvimento saudável das relações interpessoais. Eles precisam aprender a se colocar no lugar do outro, a entender e respeitar diferentes perspectivas e sentimentos.
Até aí, está tudo certo! É a cartilha que eu sigo e defendo. Por aqui, acho que os meninos estão indo bem, com alguns percalços pelo caminho, mas isso também faz parte. São cidadãos em formação, com direito a erros, acertos e ajustes constantes.
Pra quem não me conhece, sou mãe de dois garotos – os meus “dois piás”: Rafael, 12 anos, e Augusto, 9 anos. Apesar de carregarem a mesma carga genética, são completamente diferentes, por dentro e por fora. Mas uma coisa eles têm em comum: o senso de justiça extremamente aguçado.
Augusto – que poderia muito bem ter inspirado o Menino Maluquinho do Ziraldo – é o “levado da breca”, como diria a minha avó. Está sempre pulando de um lado pra outro, fazendo mil perguntas e coleciona cicatrizes em todos os membros do corpo. Tem melhores amigos em todas as faixas etárias, de 1 a 80 anos. Gosta da lua, das estrelas e encara a vida como um jogo de xadrez: adora competir e está sempre pronto pra dar um xeque-mate nos adversários.
Rafael assumiu a postura de primogênito. Prático, objetivo, racional, visionário e resolutivo. Tudo precisa ter um embasamento e argumentar com ele é cansativo. Às vezes, faço de conta que concordo com seus pontos de vista, por pura preguiça do embate. Seus amigos e fieis escudeiros são aqueles que passaram no teste do caráter. Podem até não estar sempre juntos, mas são vínculos que me impressionam pela leveza e pela constância. Intenso, usa o desenho pra silenciar a mente inquieta.
Diante desses dois turbilhões em formação, em casa, eu e meu marido temos uma regra: evitamos nos envolver nas tretas das crianças. Eles precisam desenvolver habilidades sociais e resolver os problemas entre eles. Se a coisa começar a pegar fogo, a gente chega com o extintor. Em geral, costuma dar certo.
Porém, essa semana, cobrei explicações sobre uma reclamação de que o Augusto estaria excluindo uma garota das brincadeiras. Rolou bronca, choro e momentos de tensão.
Quando baixou a poeira, fui conversar com os dois, separadamente, pra entender o ocorrido. Constatei o que eu já suspeitava: meus filhos não são anjos de candura caídos do céu, mas eles já sabem fazer a seleção entre as pessoas que merecem a amizade deles e aquelas que não merecem.
Saí daquela conversa arrasada. É importante falar de inclusão com nossos filhos. Mas jamais obrigá-los a aturar gente chata e mau caráter em nome da boa convivência social. É isso que, no futuro, faz com que a gente não saiba impor limites pra chefe manipulador, colega sem noção e amigos da onça.
Ao ensinar empatia às crianças, é necessário também ensinar habilidades de assertividade e comunicação. Elas precisam aprender a expressar seus próprios sentimentos, a estabelecer limites saudáveis e a resolver conflitos de maneira construtiva.
A empatia é valiosa, mas quando desequilibrada, pode prejudicar a capacidade de uma pessoa de se posicionar com segurança e respeito. Este é um equilíbrio crucial pra cultivar relacionamentos saudáveis e um senso sólido de autoestima ao longo da vida.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e a mãe orgulhosa dos 2 Piás, Augusto e Rafael.