Aprovada pra fortes emoções profissionais

Dia de resultado de vestibular ainda me deixa eufórica, mesmo depois de três décadas de ter vivenciado essa experiência

Danielle Blaskievicz
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Fotos: Valterci Santos

Hoje saiu o resultado do vestibular da UFPR. Minha vizinha passou. Bárbara Louise Kloss Medeiros, aprovada em Design de Produto. Eu estava tensa, pensando na reação dela caso o resultado do ano passado se repetisse. Mas a guria foi guerreira. Quase não tirou o nariz pra fora de casa o ano todo e o resultado está aí.

Fiquei muito feliz por ela. Passou um filme na minha cabeça. Lembro até hoje do dia que saiu o resultado da minha aprovação em Jornalismo na PUCPR. A felicidade foi enorme, a comemoração não existiu, pois eu estava no lugar errado e com as pessoas erradas. Ainda preciso tratar disso na terapia, mas o episódio me ensinou a vibrar pelos amigos, conhecidos e, mais recentemente, pelos filhos dos amigos que já estão sendo aprovados também.

Era 1993, uma época em que a internet era coisa da Nasa, da CIA e de outros grandes centros de inteligência pelo mundo. O povo – meu caso – tinha que conferir o resultado pessoalmente, pelo jornal que era distribuído gratuitamente em Curitiba ou, então, aguardar pacientemente em frente ao rádio, quase como se estivesse ouvindo uma novena, prostrado em forma de oração. Essa opção, pra mim, estava fora de cogitação. Acelerada que sou, não queria morrer do coração – fosse de emoção, tristeza ou por achar que tinha me perdido na reza.

Estava fora da cidade. Enquanto os corajosos já comemoravam suas conquistas, eu alinhava meus chacras pra esperar o jornal na banca. Foram cinco intermináveis horas depois da divulgação oficial. Durante todo esse tempo com o “relógio parado”, pensava se me enterraria na areia até que o caminhão que trazia os exemplares do resultado chegasse.

Achei!!!! Danielle Blaskievicz, aprovada em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. É bom contextualizar que a oferta de vagas era muito restrita, apenas a PUCPR e a UFPR ofertavam o curso em Curitiba e a disputa era ferrenha. Na Federal, o curso estava entre os cinco mais concorridos, 28 candidatos por vaga. Perdia apenas pra Medicina, Direito e Publicidade.

O resultado me deu fôlego pra sonhar com a UFPR, que faria a divulgação dali a alguns dias. Por razões que só o universo sabe quais são, não fui uma das acadêmicas convidadas a frequentar o prédio histórico da Federal, na Praça Santos Andrade, onde o curso funcionava. Redes sociais não existiam, mas eu me imaginava fazendo uma foto lacônica nas escadarias do prédio – aquelas que a gente olha pro nada, sem dizer coisa alguma.

Pra mim, aquele prédio sempre foi o símbolo da vida acadêmica. O local é um dos marcos arquitetônicos e culturais mais emblemáticos de Curitiba e do Brasil. Representa a fundação do ensino superior no país, já que a UFPR, criada em 1912, é considerada a universidade mais antiga do país.

Meu nome não constava na lista. Fiquei em trigésimo lugar, mas eram oferecidas apenas 22 vagas. Não houve segunda chamada e, mesmo que houvesse, não teria chances.

Não saí de lá triste, até porque foi lá que conheci quem viria ser minha eterna amiga e companheira de profissão, risadas e histórias loucas, Josianne Ritz, com quem compartilhei os quatro anos de Comunicação na PUCPR.

Estava conformada porque já tinha “me garantido” na PUC. Só os boletos que me preocupavam, meu pai dizia que jamais ia pagar um curso “como Jornalismo” – aquela ideia que impera entre muitas pessoas, de achar que a profissão é “sem futuro”. Ele queria que eu tivesse feito Odonto. Como não recuei, achei que não iria poder contar com ele. Minha mãe, italiana mandona, otimista e sempre cheia de si, bateu no peito e avisou que eu ia, sim, cursar a faculdade dos meus sonhos. Claro que as coisas iam apertar numa família da classe média brasileira. Estávamos acostumados.

Em meio aos medos, inseguranças de uma jovem profissional e aos relatos sobre a realidade de uma profissão já precarizada naquela época, consegui o tão batalhado diploma.

Hoje, quando me perguntam o que eu faria se não fosse jornalista, conto que não sei. Nunca tive um plano B. Em fevereiro, serão 29 anos como jornalista diplomada – porque hoje existe essa diferença, a faculdade já não é obrigatória e a gente encara muito aventureiro dando carteirada num mundo de fake news. Após mais de duas décadas atuando na área, decidi encarar outro grande desafio: a vida de empresária no Brasil, abrindo a minha própria agência de comunicação em parceria com a minha irmã, que é publicitária.

Vejo que a vida, o comprometimento com o trabalho, com a ética, a paixão pela comunicação e uma sólida rede de relacionamentos me levaram pro caminho que eu tinha que trilhar.

Alguns chamam de destino. Outros dizem que é o plano de Deus. Ou do universo. Eu só tenho uma certeza: nunca quero perder a oportunidade de vibrar com os resultados que a vida nos entrega, de formas diretas ou indiretas. O mundo não é justo. E esse é mais um motivo pra não fugir da luta e correr atrás das flores pelo caminho.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e nunca teve plano B – o A tinha que dar certo.