Faço parte da plateia que contribuiu pra que a bilheteria mundial da Barbie alcançasse a marca dos US$ 500 milhões já nessa primeira semana de exibição. Nunca fui muito fã da boneca, mas também não sou da turma que a desqualifica. Enfim, ingresso e pipoca na mão, criançada à tiracolo e aquele mundo cor de rosa e perfeito à minha frente. E eu só conseguia pensar: “Cacete! Que mulher bonita!”.
Sim, a Barbie Estereotipada – como ela mesma se autodenomina – é maravilhosa. A atriz Margot Robbie é quase uma réplica da boneca. Não vou tentar inventar a roda aqui trazendo obviedades que já são abordadas no filme, como desigualdade de gênero e o feminismo. Além de evitar spoilers.
O que me chamou a atenção foi a sutileza com que a diretora Greta Gerwig mostra que, até mesmo a protagonista, toda perfeitinha, pode ter sua autoestima abalada ao se deparar com o mundo real: celulites, pé chato e ter a percepção da ausência dos órgãos genitais.
Autoestima parece algo simples. Mas, infelizmente, nem sempre vem no pacote da vida. E costuma sofrer avarias com críticas constantes, comparações com outras pessoas, uso excessivo das redes sociais, traumas, abusos, insatisfação com a aparência, relacionamentos tóxicos e tantos outros acontecimentos ao longo da vida.
Independe de gênero, idade ou classe social. Não vende na farmácia, não dá pra fazer download, mas terapia ajuda muito.
Há alguns anos, a própria Barbie foi acusada de minar a autoestima das garotas. O artigo científico “O impacto do estilo de vestir e a familiaridade da boneca na insatisfação corporal em meninas de 6 a 8 anos”, produzido por Rebecca D. Jellinek, Taryn A. Myers e Kathleen L. Keller e publicado em 2016 na revista Body Image, fez uma análise de como a boneca da Mattel afeta a percepção corporal de meninas nessa faixa etária. Não deu outra: as crianças que brincaram com o modelo tradicional da boneca eram mais insatisfeitas com seus corpos.
Ok, alguns anos se passaram desde essa pesquisa e o assunto, inclusive, é abordado no filme. Na prática, a Barbie só veio perpetuar uma cobrança que existe há séculos sobre o corpo feminino. E, por mais que isso venha sendo amplamente debatido nos últimos tempos, trazendo mais flexibilidade e novas concepções à indústria da moda, o estrago na autoestima feminina está feito. E a Barbie foi apenas mais um brinquedo, literalmente, nesse processo.
Assisti ao filme com meu filho, de 11 anos, e as amigas dele, todas nessa faixa etária. Meninas inteligentes, divertidas, com vários atributos de beleza e que têm famílias presentes pra reforçar o tempo todo a mensagem que a boneca Barbie descobre, de que a verdadeira beleza vem de dentro. Mesmo assim, são garotas que estão prestes a entrar na adolescência e a vivenciar o turbilhão hormonal e social dessa fase da vida. E eu nem posso aconselhá-las a fugir pras cavernas até tudo isso passar porque uma hora elas vão ter que sair de lá. Como a Barbie, que saiu da sua Barbielândia. O jeito é crescer e ir ajeitando as coisas no processo! E, se precisar, descer do salto pra encarar a realidade!
Danielle Blaskievicz é jornalista e curtiu mais a Emília do que a Barbie.