
Curitibano que se preze conhece a fama da população local: a simpatia não é um dos traços mais marcantes na terra das araucárias. Pra compensar a ausência de carisma natural e o sotaque arrastado na segunda vogal – que faz cantar todas as palavras terminadas em “e” e ainda denuncia a origem do interlocutor –, Curitiba, a cidade, é praticamente uma personalidade que assume o lado meigo e receptivo da capital paranaense. Parecem duas entidades que convivem de forma pacífica e ordeira: Curitiba, inteligente, sustentável, inovadora, planejada, referência em transporte urbano de um lado. Do outro, os curitibanos, com adjetivos nem sempre tão carinhosos.
Na minha cabeça, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Simpatia e urbanidade são coisas diferentes, mas podem muito bem andar juntas. Imagina dividir um elevador high tech com pessoas sorrindo e distribuindo “bom dia” sem precisar pagar imposto? Puro luxo na cidade nublada.
“Curitiba ganha o título de cidade mais acolhedora do Brasil”. Taí uma das manchetes que eu adoraria ler em algum portal mundo afora. Ainda que a honraria levantasse suspeitas, poderia ser uma forma de estimular o turismo, a gastronomia, os bons modos e as práticas de convivência civilizada no mundo subtropical. Curitibano adora uma mídia, assim poderia comprar a ideia e passar a sorrir mais!!!!
Curitiba é uma cidade com muitas qualidades, mas não dá pra esquecer que ela faz parte do Brasil e de todo um contexto histórico e geográfico que acaba se refletindo em desigualdades sociais, falta de segurança e a garantia dos direitos básicos aos cidadãos.
Curitiba tem 1.773.718 moradores, segundo os dados mais recentes do IBGE. Uma parcela significativa dessas pessoas está enfrentando algum desafio pessoal. Pode ser a falta de um emprego, de um lugar pra dormir, comida pra levar pra casa, questões mais complexas que muitas vezes dependem de políticas públicas específicas.
Pra outras, porém, os problemas podem ser resolvidos com um abraço, um bate-papo, um café no meio da tarde ou um sorriso num dia nublado. Neste Natal, não deixe que o curitibano que mora em você se esconda atrás da barba do Papai Noel.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e conhece vários curitibanos simpáticos