
Virou moda viver como se a vida fosse uma eterna capa da Casa Vogue, toda minimalista: tons neutros, móveis com nome escandinavo impronunciável e uma vela aromática com cheiro de bosque transcendental. A estética é zen, o feed é clean, o look é bege. Mas se a casa está limpa, o filtro do Instagram faz milagre e a xícara de cerâmica artesanal está no lugar certo, por que é que a alma continua parecendo uma gaveta de meias: cheia, bagunçada e com um buraco misterioso no fundo?
Estamos todos nessa esquizofrenia moderna: praticamos o minimalismo estético com o fervor de um monge digital, mas emocionalmente somos acumuladores. Tudo é demais. É emoção demais, opinião demais, expectativa demais. Um tsunami de mantras, cristais, coaching quântico e frases motivacionais grudadas na geladeira como se fossem resolver o caos interno. E, no meio disso tudo, a gente tenta colar uma paz imaginária na parede da sala. E regar.
É aquele desfile estático em todos os tons de verdes e muitos coloridos também. Plantinhas de todos os tipos e tamanhos. Santas, silenciosas, imponentes ou discretas. Começa com uma jiboia casual, só pra “dar uma vida na estante”. Em pouco tempo, a casa virou uma pequena floresta doméstica.
Tem planta na pia, na cabeceira da cama, no banheiro. Tem folha, inclusive, onde antes morava o bom senso. Ainda mais eu, que, se pudesse, plantava uma araucária no meio da sala de estar.
A gente enche a casa de verde tentando compensar o cinza por dentro. Cada novo vaso é uma vitória da sanidade, de perceber algo crescendo, se exibindo, ainda que o resto esteja meio murcho, borocoxô. A planta não julga, não comenta, não dá palpite. Apenas existe.
A gente tenta manter a estética minimalista, mas logo a samambaia cobre o quadro, a peperômia engole a prateleira e o verde vira moldura pro caos emocional que não cabe mais, nem atrás da estante de livros que nunca lemos.
No fundo, o que a gente quer não é a vida perfeita de revista. É algum controle. Uma rotina que não mude a cada três dias, uma identidade que não precise de login. A sensação de que tem algo que depende só da gente, nem que seja regar uma costela-de-adão com nome de gente. Sim, minhas plantas têm nome. Não estou louca, estou emocionalmente fotossintética.
Talvez o segredo da paz interior esteja menos no incenso e mais na adubação. Menos no mantra e mais no borrifador. Menos julgamento, mais mudinhas. Porque no fim, a vida não se acalma com paleta neutra e legenda de autoajuda. No entanto, um lírio da paz florescendo em silêncio é quase uma promessa de que vai ficar tudo bem.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e foge da sessão de plantas no supermercado.