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Tiro, porrada e bomba. Jovens mortos. Crianças assassinadas. Famílias expulsas de seus territórios. Sangue, lágrimas, gritos de horror. Pode ser em Gaza, mas pode ser em muitos outros endereços. Ucrânia, Etiópia, Somália, Burkina Faso, Mianmar, Nigéria. Pode ser na Rocinha, no Vidigal ou no Alemão. Ou ainda em Heliópolis, Paraisópolis. Pode ser na Vila Torres, no Parolin. Pode ser em zona de conflito ou na área nobre de qualquer capital brasileira. Pode ser perto de mim ou de você.

A guerra no Oriente Médio assusta, apavora, causa pânico e preocupação sobre a possibilidade de novos confrontos de proporções globais. Boa parte do show de horrores está sendo transmitido ao vivo, pela televisão e pelas redes sociais. Porém, há muitos outros conflitos quase silenciosos ou até desconhecidos que não são noticiados ou que merecem muito pouco destaque.

Conflitos étnicos e econômicos envolvendo diferentes povos são apenas algumas das guerras em andamento no mundo. Só dessas, há quase uma dezena atualmente. Existem outros confrontos, talvez menos “nocivos” ao planeta, mas que também causam vítimas, destroem famílias e deixam homens e mulheres completamente desorientados.

Médicos que estavam a passeio no Rio de Janeiro foram fuzilados em uma área nobre da capital fluminense. Os supostos autores do atentado não sobreviveram para ver o desfecho da história, também passaram a fazer parte das famigeradas estatísticas da morte. Só no ano passado, no Brasil, foram registradas 47.508 mortes violentas, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Nessa conta, é preciso incluir o caso daquela conhecida que acabou morta a machadadas pelo ex-marido, inconformado com o fim do casamento. E da menininha que foi encaminhada ao hospital após uma suposta queda. Os exames, no entanto, indicavam agressões e maus-tratos que levaram a garota a óbito. As cenas, apesar de parecerem folhetins de Nelson Rodrigues, fazem parte do cotidiano dos órgãos de saúde e de segurança pública em todo Brasil, tal como os trágicos personagens de “A Vida Como Ela É”.

Não dá pra banalizar a violência. Pra quem está do lado de cá, as primeiras notícias chocam. Mas é necessário que continuem causando espanto a cada nova vítima pra não cair no lugar-comum e, não correr o risco de, em breve, as bombas transmitidas pela tevê acabarem se confundindo com os rojões da virada do ano.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e eterna inconformada com as estatísticas trágicas.