Bola de Cristal (Crédito: Freepik)

Sou daquelas que sigo à risca o ditado “dou um boi pra não entrar numa briga, mas uma boiada inteira pra não sair”. E, sabendo disso, por muito tempo optei por me calar diante das asneiras humanas pra não sacrificar nem boi, nem boiada. Até porque acho que os pobres coitados dos bichos não têm nada a ver com as tretas de ninguém.

Mas esses dias minha psicóloga me chamou pra Terra! Eu estava tentando justificar que prefiro me afastar de gente doida ou das pessoas que me magoam só pra evitar os confrontos. E quando os conflitos envolvem pessoas que eu gosto, é comum eu acabar me calando até as coisas se acalmarem.

Com um jeito bem sutil, mas no melhor estilo “pare e pense na m… que você está fazendo” – óbvio que ela não usou esse termo, mas essa foi a minha leitura –, ela me mostrou que de nada adianta eu, taurina que sou, ficar eternamente ruminando uma situação, sem buscar esclarecê-la. O máximo que poderia acontecer, nesses casos, é o pasto acabar e eu ficar com fome, sem sair do mesmo lugar.

Essa é a questão: nem tudo é sobre a gente. O mundo não gira em torno do nosso umbigo e, em muitas situações, as pessoas acabam nos ofendendo sem sequer se dar conta disso. E quando nos sentimos ofendidos, se não pontuarmos o que nos incomoda, não há avanço, simplesmente porque os outros não têm como adivinhar as coisas que se passam nas nossas cabeças e corações.

Não há Inteligência Artificial, bola de cristal ou carta de tarô que sejam capazes de traduzir sentimentos como a raiva, a frustração e a decepção. Muita gente tem facilidade em usar as expressões faciais e corporais pra demonstrar o que se passa em seu interior, mas, ainda assim, verbalizar é quase um rito de passagem pra libertação.

Se o interlocutor vai dar valor ou considerar tais ponderações, aí são outros quinhentos. Que o caminho do diálogo é sempre o mais inteligente, não há dúvidas. A falta dele vem trazendo alguns resultados trágicos ao longo da História da humanidade. Porém, cabe a cada um escolher de qual grupo vai querer fazer parte: daqueles que conversam ou dos que resolvem tudo na base das decisões unilaterais?

Fácil não é! Estou descobrindo na prática que falar o que nos incomoda é algo como praticar atividade física. No começo você reluta, acha um saco, uma perda de tempo. Depois, começa a se sentir mais aliviado e, literalmente, percebe os efeitos no corpo. Exige hábito, constância e disciplina. Às vezes, dá vontade de desistir e largar tudo diante das primeiras dores musculares e sinais de cansaço. Mas os resultados ao longo do processo vão fazendo você enxergar outra pessoa no espelho.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e descobriu que a Inteligência Artificial ou a bola de cristal não traduzem os sentimentos.