IBGE confirma: você é mais um na multidão

Danielle Blaskievicz

Franklin de Freitas

O resultado do mais recente censo demográfico brasileiro confirma a profecia do saudoso Erasmo Carlos: você é mais um na multidão! São mais de 203 milhões de pessoas espalhadas por 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Ou seja, haja aplicativo de relacionamento pra facilitar o encontro das almas gêmeas nesse mundaréu de gente vivendo em locais tão distintos e tão distantes.

E, mesmo diante de números tão impressionantes, cresceu a parcela da população que vive sozinha – seja por opção ou por falta dela. Dos 74,1 milhões de domicílios no país, em 11,8 milhões de residências estão brasileiros que vivem sós. Nem mesmo um papagaio pra “trocar ideias” é possível nessas casas, uma vez que o ambiente urbano não é local pra tagarela ave silvestre.

Muita gente não só gosta, como também prefere fazer parte dessas estatísticas. Infelizmente, os pesquisadores não se preocuparam com a minha curiosidade e o meu lado jornalista e, por isso, não entraram em detalhes pra saber a motivação do isolamento nesses casos.

Viver sozinho não é sinônimo de solidão. Já dizia algum filósofo de internet que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Óbvio! É possível se sentir conectado ao mundo e ao outro mesmo longe fisicamente. Ou ainda estar cercado de muita gente e, ainda assim, sentir-se só.

A solidão, inclusive, embasou muitos dos escritos de Freud, o pai da psicanálise. Em suas obras, ele a classifica como uma condição inerente à experiência humana. Uma consequência do desenvolvimento emocional e psicológico.

Mas Freud é anterior à internet e às redes sociais. Fico pensando o que ele diria hoje, ao ver tanta gente conectada e, ao mesmo tempo, tão sozinha. Ao mesmo tempo que esses canais podem significar uma fuga temporária da solidão, ao facilitar o contato, podem também aumentar a desconexão com a vida real, com o outro e acentuar ainda mais a sensação de solidão.

Será que dá pra gente retroceder um pouco? Abrir mão do 5G e resgatar os abraços, as risadas presenciais em tempo real e o link do olho no olho? Tenho certeza de que isso faria um bem danado à humanidade.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, gosta de ficar sozinha de vez em quando, mas detesta a solidão.