Estava eu, bem plena no sofá, tentando me recuperar de uma gripe que parecia querer puxar meu CPF pra outra dimensão, quando meu filho caçula pega minha mão e analisa como se estivesse diante de um fóssil em um museu de história natural. Com toda a diplomacia infantil que Deus lhe deu, solta: “mãe, tua mão está ficando enrugada.”
Adoraria ter a mão da Barbie Pós-Menopausa, recém-saída do spa. Mas aqui é vida real. Dei aquele sorriso resignado de quem já usou essa mão pra segurar filho prestes a se estabacar no chão, sacola pesada do mercado, lágrimas caindo e umas paixões que nunca se concretizaram.
A verdade é que, hoje, minha mão – assim como todo seu entorno – tem mais passado do que futuro. E isso, longe de ser triste, é libertador. Quando a gente se dá conta de que o tempo é uma senhora meio agitada e nada paciente, para de esperar por autorizações invisíveis. E vai. Com medo, com preguiça, com tudo. Mas vai.
Passamos tempo demais acreditando que é o futuro que vai nos salvar. Como se o futuro fosse uma entidade, um spa místico onde tudo vai finalmente se ajeitar após uma profunda imersão: a barriga, a conta bancária, a vida amorosa, a autoestima, o caos mundial. Enquanto isso, o presente acena desesperado como notificação de dívida vencida: chato, necessário e impossível de silenciar.
Na real, começo a achar que o presente é tipo aquele amigo doido e totalmente sem filtro: inconveniente, sincero, mas sempre por perto. Ele é feito de café que esfria, de mensagem que emociona, de crise de riso em hora errada. E de umas angústias também, porque a vida não é publi no Instagram.
Talvez o segredo esteja em parar de adiar as alegrias. Parar de esperar o “momento ideal”. Usar os copos de cristal todos os dias. Falar o que sente. Rir alto. Errar feio. Perdoar meio certo. Mas seguir.
Não acredito em manual pra uma boa existência. Até porque, se existisse, já teria sido extraviado no correio da vida. Mas se é pra arriscar um tutorial possível, que seja mais ou menos assim: use filtro solar, hidrate as mãos e o resto também (porque as rugas vêm mesmo, e são só bilhetes do tempo colados na pele). Ligue pra quem te faz rir alto. Releia aquela mensagem brega que ainda te faz sorrir. E jamais dispense uma boa sobremesa. A vida não espera. O futuro é distraído. E o presente tem pressa.
*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e encara as rugas como tatuagens: desenhos que contam uma história