Meu tempo é agora

Danielle Blaskievicz

Cesar Brustolin/SMCS

De repente já é quase metade do ano. E as promessas, metas, sonhos e desejos como estão? A “listinha” da virada do ano, ainda está valendo? Dieta, academia, vida financeira, encontrar (ou manter) o amor da vida, etc., etc., etc…

O total de ingredientes e a variedade vai se modificando de acordo com o protagonista. E, nesse “pacotaço” de objetivos, muita gente deixa de viver o dia de hoje. Sem perceber! Fica projetando o futuro ou remoendo o passado, mas o momento atual acaba se esvaindo nesse vaivém de projetos.

Um jovem de 18, 19 anos, pode ter a sensação de ser dono do seu próprio tempo, com a capacidade de conquistar o que tiver vontade. À medida que a maturidade vai chegando, essa convicção de ser o “senhor do tempo” também costuma ir embora.

Sou daquelas que adora olhar pra trás e observar as transformações da vida. A galera da minha geração – os atuais cinquentões – viu a vida ser digitalizada. Aprendeu a usar a máquina de escrever e hoje navega na internet. Alguns, mais ousados, até se aventuram nas redes sociais criadas pelos nativos digitais e ainda fazem sucesso.

Outro dia, porém, ouvi uma frase que me fez refletir sobre tudo isso e a importância do momento atual. Um conhecido, já perto dos 70, afirmou categoricamente “o meu tempo é agora”. Era uma justificativa aos papos saudosistas que a gente escuta por aí, do tipo “no meu tempo as crianças eram mais educadas’; “no meu tempo os filmes eram melhores” e similiares.

Que ousadia, né? Tudo bem ouvir isso de um adolescente, mas da boca de alguém que já deveria estar aposentado, contando histórias pros netinhos no sofá da sala e arregalando os olhos pros desvarios das novas gerações… Um verdadeiro abuso. Pra muitos, chega a soar como arrogância!

E quer saber? Acho que ele está mais do que certo! O meu tempo também é agora, com a vantagem da experiência dos tempos anteriores. Posso dizer que sei o que é uma lista telefônica, mas que hoje me viro muito bem com o Google e as ferramentas tecnológicas que estão à minha disposição. Ou que era daquelas que racionava filme fotográfico pra garantir uma maior variedade de fotos durante a viagem, mas hoje posso fazer caras e bocas diante da lente do celular porque tudo está armazenado na nuvem e, nesse caso, até o desperdício está valendo.

Agora eu dispenso as listas da virada do ano. Pra mim, ano novo pode ser um acontecimento diário. Não preciso esperar 31 de dezembro pra vestir uma roupa linda, juntar os amigos e estourar uma espumante. Posso começar a dieta numa sexta-feira, porque não é o calendário quem manda na minha vida.

Quem disse que só é possível se divertir aos 20, encontrar o amor da vida aos 30 e descobrir a profissão certa antes de entrar na faculdade?

A vida não é cinema, não vem com roteiro. É uma verdadeira adaptação em tempo integral. Dá pra se reinventar na carreira aos 50, se apaixonar aos 60 e ser feliz sem hora marcada.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e dispensa as listas e promessas de virada do ano.