Essa não é uma mensagem tradicional de Feliz Dia dos Pais. É apenas um recado que eu quero dar pra aquele cara que segue levando a vida numa boa, sabendo que a prole está por aí, porque a mãe, a avó ou as tias se viram pra criar. Ou pior, pra aquele que segue fazendo de conta que os rebentos não existem, que são praticamente resultado de produção independente da genitora. Ele? Apenas a vítima do espermatozoide roubado.
Toda vez que eu vejo meus filhos abraçarem meu marido, fico imaginando quantos homens estão perdendo a oportunidade desse momento tão incrível. A vida que renasce dentro desse gesto. Esses caras não vão ganhar abraço de Dia dos Pais. Não vão ganhar presente.
Pais ausentes não ganham presentes! Não ganham sorrisos, nem beijos antes da escola. Pais ausentes não ganham homenagem no dia da formatura. Não ganham crédito no filme da vida. Não merecem espaço no álbum de fotos.
Pais ausentes não mostram quais são as suas músicas preferidas. Não ensinam como faz pra trocar a marcha do carro e pisar na embreagem ao mesmo tempo.
Pais ausentes não vão ao cinema com a cria. Nem ao supermercado, à igreja, ao shopping ou ao parque. Não controlam o horário da balada e não conhecem os integrantes da turma.
Pais ausentes não sabem da carteira de vacinação, da lista de remédios que causam alergia e nem o telefone de emergência da clínica pediátrica. Não sabem a diferença entre gripe, febre e resfriado.
Pais ausentes não sabem quanto custa um quilo de feijão, um par de tênis ou um caderno brochura. Não sabem se a criança já aprendeu a ler ou está pronta pra encarar a faculdade.
Em alguns casos, pais ausentes têm redes sociais, pra fazer bonito pra sociedade quando são obrigados a se responsabilizar pelas crias em alguns momentos. Aí é flash, sorriso e, se duvidar, até make.
Pais ausentes causam traumas irreparáveis nos filhos. Eles deixam de dar seus nomes. Deixam de dar recursos materiais. Deixam de dar afeto. Deixam de dar amor. Roubam a esperança. Destroem sonhos.
Hoje, no Brasil, há mais de 1,1 milhão de crianças com idade inferior a 7 anos sem o nome do pai na certidão. Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), considerando os registros a partir e 2016. Esses são os pais ausentes oficiais, de acordo com as estatísticas. A prática, no entanto, é muito mais assustadora. O nome na certidão de nascimento é o de menos! Pais ausentes não são parceiros de seus filhos.
Paternidade não é regra, obrigação ou imposição social. É uma opção, uma decisão. Só deve ser encarada pra quem faz sentido.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e tem a sorte de ainda ter seu pai presente, aos 73 anos.