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Separação (Freepik)

Em tempos remotos – quando ligação a cobrar era uma opção pra falar com o mundo – separação era drama de novela das oito, com direito a mala jogada pela janela, vizinho curioso espiando pela cortina e choro engasgado no travesseiro. Era coisa séria, silenciosa e, quase sempre, escondida sob o manto da vergonha social. Hoje, o fim do amor vem com edição em Reels, trilha sonora dramática e legenda em tom de coaching emocional: “Seguimos amigos e gratos por tudo que vivemos”. É o fim do amor líquido que escorre direto pro feed, com filtro Valencia e cara de superação de TEDx.

Dias atrás, um casal famosíssimo por ostentar a vida perfeita em pílulas de 15 segundos – e que me recuso a citar os nomes porque, se depender de mim, o engajamento inexiste – apareceu anunciando o fim da relação.

Tudo muito teatral, lágrimas nos olhos – de crocodilo que acabou de ganhar um ring light –, um “momento difícil” devidamente roteirizado – porque, afinal, sentimento só vale se tem engajamento. Se não tiver milhares de likes, pelo menos três stories com fundo desfocado e música triste, não conta como separação, é só DR com audiência.

Mas… como diria minha avó, “tem caroço nesse angu”. Coincidentemente – ou não – a senhora influente em questão está com o nome suando frio na CPI das Bets. Tudo isso justamente no momento em que o casal decide encerrar o contrato. Ops, o casamento. Uma separação anunciada com timing tão preciso que faria até roteirista de House Of Cards se sentir amador.

A pergunta que não quer calar: separação ou estratégia de blindagem patrimonial com filtro de casal lifestyle? Porque se a gente for seguir o roteiro das novelas jurídicas brasileiras, separação pode sim ser um jeito maroto de proteger os bens: dependendo do regime, divide-se o que é comum e, quem sabe, guarda-se o resto debaixo do tapete persa da influência digital. Regime de bens no Brasil é tipo status no Facebook: confuso e cheio de camadas.

O público segue assistindo como se estivesse acompanhando uma série da Netflix. Tem quem torça pra reconciliação, tem quem queira ver o desenrosco virar briga e parar nos tribunais – ou em algum podcast da moda. Porque agora tudo vira conteúdo. O luto amoroso foi terceirizado pra social media. Tem separação que rende mais cliques que casamento, tem lágrima que viraliza mais que sorriso.

Enquanto isso, o povo aqui fora segue com boleto vencido, casamento real sem roteiro nem alívio cômico e um ranço crescente dessa nova tendência: o marketing de separação. Gente que nunca teve talento pra atuação, mas virou estrela do próprio divórcio. Quem diria que o amor em 2025 não morre – é demitido, com aviso prévio no Instagram e direito a caixinha de perguntas.

E nós, meros mortais offline, seguimos aqui: tentando amar sem roteiro, sem trilha, sem filtro. Só com sinceridade e a certeza de que, se um dia o bicho pegar, não vai ter likes suficientes pra amortecer o baque.

*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e tem preguiça crônica de pseudocelebridade que finge emoção pra gerar tráfego.