(Foto: Mario Akira)

Hoje eu não quero falar da guerra. Nem escrever, ver ou ouvir. Há duas semanas eu acordo olhando as notícias do conflito entre o Hamas e Israel e assim eu vou dormir. Mas qualquer outro assunto diante do absurdo que está acontecendo no Oriente Médio parece ser tão banal. Dá pra falar da lesão do Neymar no último jogo da Seleção Brasileira, do clima virado do avesso, com a seca na Amazônia e as enchentes no Sul do Brasil. Tem ainda o bafafá dos reality shows: um na tevê aberta, que provocou a expulsão da participante, e outro, no streaming, que envolve outro confronto tão eterno quanto o da Faixa de Gaza, que é a relação de noras e genros com as sogras.

A Seleção Brasileira de Futebol já há algum tempo que não faz mais o meu olhar brilhar. Depois do fatídico 7×1 contra a Alemanha, em 2014, tenho achado qualquer torneio da Segundona mais animado. Faço votos que o jovem jogador se recupere logo. Enquanto isso, terá bastante tempo para se dedicar à nova família.

Vamos aos assuntos de elevador, nem sempre mais amenos, mas também urgentes: a instabilidade do tempo! Em Curitiba, precisei fazer um esforço pra lembrar do último dia que vi o sol brilhando no céu. Faz quase um mês, foi no penúltimo final de semana de setembro, calor que parecia que o mundo ia acabar. Sensação de 40 graus na sombra e cheiro constante de catinga no ar. Poucos dias depois, parecia que Noé tinha resolvido voltar pra esse mundo e eu não tinha o QR Code pra entrar na Arca.

Na televisão, na tentativa de fugir da guerra real, existem algumas opções. Boa parte delas termina em conflito também. Numa delas, uma jornalista com nome das 1001 Noites é expulsa depois de se envolver num barraco com outra habitante da “fazenda”. Se o bate-boca na tevê aberta parece demais, passa pro streaming que a audiência também está explodindo.

Confinados em uma ilha deserta paradisíaca, sogras com seus genros ou noras – além do restante do bando, filhos, periquito e papagaio – participam de uma disputa por R$ 500 mil com direito à muita lavação de roupa suja em um cenário surreal. O programa, apresentado por Fernanda Souza, registrou 1,8 milhão de visualizações e 6,4 milhões de horas consumidas na plataforma em apenas uma semana.

Problemas cotidianos que costumam ficar trancados entre quatro paredes vêm à tona, com o enxoval completo: mágoas, falta de diálogo, problemas de convivência, falta de habilidade nas dinâmicas sociais e uma dose exagerada de emoções.

O que dá pra concluir de tudo isso é que a espécie humana, mesmo sofrendo, gosta de observar a barbárie, o absurdo, as atrocidades. Talvez seja uma espécie de catarse olhar pra dor do outro e pensar “pelo menos não é comigo” ou “aqui tá ruim, mas ainda assim tá bom”. Falar de amenidades talvez seja isso também, uma forma de fugir da realidade que a gente não quer enxergar.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e eterna inconformada com as estatísticas trágicas