Crônicas pra Anteontem Crônicas pra Anteontem

Viver é improviso com plateia invisível

Em 2025, os expectadores da vida precisam aprender a focar com 38 abas emocionais rodando

Danielle Blaskievicz
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"Ultimamente, a vida parece aquele grupo do WhatsApp onde todo mundo saiu e só ficou você e o caos" (Foto: Pixabay)

Setembro chegou feito boletim de ocorrência: um susto atrás do outro. Veríssimo se despediu com sua ironia afinada, Mino Carta baixou a caneta, Jaguar já tinha largado o traço e o Silvio Tendler fechou o documentário da própria existência.

Eu, aqui do outro lado, assistindo a tudo sem tutorial de como reagir. Sem roteiro. Sem spoiler. Só com uma xícara de café e a cara de quem está numa série existencial que virou drama de repente.

O ano já deu o que tinha que dar. 2025 está naquele momento de acender as luzinhas de Natal e esperar o senhorzinho do saco vermelho e barba branca. Setembro é tipo a sexta-feira do ano: parece promissora, mas já chega exausta e a gente se perguntando se ainda vai dar tempo de cumprir parcialmente as metas, tentando salvar alguma coisa dessa temporada.

Olho o noticiário e me pergunto se alguém sabe, realmente, o que está fazendo. Não batem mais panelas nas janelas, só divulgam rojões televisionados com pinta de armação feita por inteligência artificial.

Ou será que está todo mundo só disfarçando bem o improviso? Só eu estou doida? Ultimamente, a vida parece aquele grupo do WhatsApp onde todo mundo saiu e só ficou você e o caos.

Queria receber um e-mail com alerta de existência validada e os próximos passos a seguir, como rir mais, temer menos e ignorar os idiotas. Infelizmente, só recebo spam da farmácia, tentativa de golpe virtual e notificação de boleto prestes a vencer.

A real é que viver é um experimento sem bula. A gente vai testando reações, misturando sentimentos, cometendo excessos. E, às vezes, acertando sem querer.

O jeito é seguir misturando um pouco de luto, um pouco de riso e uma alma que insiste em fazer piada.

Porque viver se poupando é como guardar chocolate pro apocalipse: quando o fim chegar, você nem vai lembrar onde escondeu.

E, no final, torcendo pra que, quando a ampulheta zerar, alguém diga: “Viveu feito furacão: barulhenta, chacoalhando tudo por onde passa, intensa e sem freio.”

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e insiste em acreditar em finais felizes.