Foto: Franklin de Freitas

Janeiro e as grandes metrópoles brasileiras que estão distantes do mar se transformam em povoados zumbis. O trânsito fica transitável – por incrível que pareça o pleonasmo – e reforça a sensação de que “todo mundo está na praia”. O problema, como já diziam muitas mães, é que “você não é todo mundo”. Faz parte do grupo que precisa fazer a roda girar, pagar boletos e manter a economia em movimento mesmo em dias que a sensação térmica beira os 40 graus à sombra.

A relação do brasileiro com o mar é algo que merece ser estudada. Acho que é um fenômeno antropológico. São Paulo, com seus mais de 12 milhões de moradores, deixou de lado a pressa. Curitiba resgatou os ares de província da década de 1970. Porto Alegre, Belo Horizonte e outras capitais se tornaram espaços quase silenciosos.

Existem férias no campo, férias em estações de esqui e nas milhares de cidades de interior, onde o trânsito é composto por carros, motos, cavalos, tratores e até burros.

Existem, inclusive, férias em casa, nesses grandes centros urbanos, onde milhares de programações são criadas pra entreter a galera que fica. Porém, pro típico habitante da “cidade grande”, esses dias de folga não são computados como férias, afinal, ele não foi à praia.

Descanso e tranquilidade mesmo é encarar horas de estrada, gente desesperada e fazendo mil barbeiragens pra chegar mais rápido ao seu destino: a praia. Algumas rodovias chegaram ao limite nos últimos dias, registrando quilômetros de lentidão.

Não é à toa que os empreendimentos à beira-mar estão tomando conta da paisagem em vários trechos do litoral. Balneário Camboriú e arredores que o digam. São prédios enormes formando paredões que quase ofuscam o astro-rei.

Na areia, com pouca roupa e nem sempre atentas ao protetor solar, estão espalhadas praticamente todas as tribos urbanas. Ritmos como pagode, sertanejo, funk e rock compartilham os metros disponíveis da orla. É uma verdadeira imersão na diversidade brasileira que, em diversos pontos da costa, ganha sotaques e contornos estrangeiros. Porque sol e mar estão entre os principais produtos de exportação no Brasil.

Pra completar, cerveja, caipirinha, picolé e milho verde são comercializados a preço de ouro, pra fazer jus ao conceito “exploração do turismo”. E do turista, principalmente.

Não se engane!! Existe vida longe da praia e ela pode ser bem divertida também. Mesmo sem foto com os pezinhos à mostra! Acredite!

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e adora praia, mas tem pavor de disputar espaço na areia.