Arte e arquitetura dialogam em Curitiba e dão cor à “cidade cinza”

Melissa Mussi | melissa@arqbrain.com.br

Fachada do DUQ Restaurante, assinado por André Mendes, no Centro de Curitiba. Foto: Mariana Lima/Divulgação

Curitiba é conhecida por muitos apelidos: a cidade verde, a cidade sorriso, a cidade inovadora. Sugiro olharmos também para a relação de seus artistas com a arquitetura da cidade e o espaço público para reconhecer que Curitiba é também a cidade cinza que mais imprime cores em paredes, quadros e grandes murais. Nesta sexta de feriado em virtude do dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, destaco três artistas cujas artes dialogam com a arquitetura e dão mais cor a Curitiba.

A imagem que abre essa coluna é uma das intervenções artísticas em arquitetura que mais chamou atenção da cidade. A fachada do restaurante DUQ, no Centro de Curitiba, é assinada por André Mendes, artista que experimenta e mistura técnicas e linguagens. Neste painel, pintura e escultura, uma dobradinha bastante comum em seu trabalho. Paredes são apenas um dos suportes de André, que também pinta telas, monta instalações artísticas e projeta murais em azulejo. No Brasil, o artista é representado pelas galerias Zilda Fraletti, em Curitiba, e Aura (SP).

Painel de André Mendes na Wander Art Gallery, em Londres. Foto: Reprodução/site André Mendes

É marcante no trabalho de André Mendes as “faces”, rostos pintados em um traço único, que dá voltas e mais voltas para formar olhos, narizes e contornos, aparecem em Curitiba em tinta, como no Hospital Pequeno Príncipe e inúmeras participações na CASA COR PR, e em azulejo para as fachadas da Sanepar e Unimed Curitiba. Mas também tem trabalhos em Singapura, na TAKSU Gallery, para onde produziu em metal sólido uma de suas “faces” com 2 metros de altura e quase 120 quilos. O hall com vão livre do Andaz Hotel Hyatt, também em Singapura, ostenta uma obra de Mendes de 26 metros de altura e 3 metros de largura, batizada de “Mankind”, em que o artista representa ícones e símbolos da cultura local e também os viajantes e turistas que por lá passam.

Ateliê de Emerson Persona, foto de 2022. Foto: Reprodução/Instagram Emerson Persona

Realidade e imaginação se misturam na obra de Emerson Persona, artista conhecido por suas telas “flutuantes”. Seja em tela ou tecido, Emerson fragmenta a representação de personagens – humanos ou não –, plantas, seres híbridos e seu entorno, formando imagens que pairam sobre seu fundo. É a sua maneira de trabalhar a relação entre corpo e mundo, sujeito e entorno. Falando nesses termos, é quase impossível não relacionar essa discussão com a primeira das 7 Artes Clássicas – a arquitetura. A pintura, aliás, é a terceira da lista das grandes artes.

Registro de processo de Emerson Persona. Acrílica sobre tecido. Foto: Reprodução/Instagram Emerson Persona

Emerson também produz grandes formatos, com dimensões com mais de três metros, em diferentes suportes. No final de 2022, expôs no Museu Municipal de Curitiba, o MuMa, parte de seu trabalho em grandes dimensões na mostra “Vermelho”, e seu trabalho já integrou mostras coletivas como “Sensível por natureza”, no Museu Oscar Niemeyer, em 2020; “Galeria 31”, na Bienal Internacional de Curitiba – 25 anos, em 2019; “Gama”, na Galeria de Arte SOMA, em 2018; e “Na diferença se constitui”, também no MuMA, em 2018.

Conhecido nos muros e fechadas curitibanas, a arte de Rimon Guimarães já esteve presente em 27 países. Na foto, o painel “Lua Diurna”, em Minsk, em Belarus, pintado em 2015. Foto: Yulia Savich/Reprodução

O multiartista Rimon Guimarães é conhecido por seus painéis em graffiti, muitos deles no alto das fachadas de prédios históricos ou de construções no centro de Curitiba. Mas Rimon é também atuante como cantor e compositor, tendo colaborado com as bandas curitibanas Tuyo e Trombone de Frutas, além de pintar telas em acrílica e desenvolver estampas e roupas de marca própria, a Rim.on, confeccionadas junto de sua família.

As figuras humanas retratadas por Rimon em quaisquer destes suportes ganha uma paleta de cores solar e muito própria, com o rosto invariavelmente negro. A partir da sua arte, Rimon destaca histórias do povo negro, como o retrato “Preta do Sul”, pintado em 2017 na lateral da Casa Hoffmann, no Largo da Ordem.

“Preta do Sul”, mural de Rimon Guimarães na lateral da Casa Hoffman, no Largo da Ordem, em Curitiba. Foto: Leo Flores/Divulgação

A pintura mostra uma mulher em frente a uma paisagem idílica e com um turbante rico em cores e detalhes. A obra relembra e reforça a presença da população negra em Curitiba, com sua multiplicidade cultural retratada no pano de cabeça da mulher. O painel foi feito sobre outra pintura também feira por Rimon, em 2011. Atualmente, é possível encontrar o trabalho de Rimon em 27 países, como em Belarus, mas em nenhum lugar suas cores são tão necessárias quanto em Curitiba.

Melissa Mussi | melissa@arqbrain.com.br