A arquiteta Maiara Faria, com uma década de experiência em interiores corporativos, lidera o escritório Maiara Faria Arquitetura, concentrando-se na humanização dos ambientes de trabalho. Seus projetos surgem da observação das necessidades de colaboradores e gestores, envolvendo também gestão, coordenação de obras e consultoria. Com passagens pelo escritório de Jayme Bernardo e uma estadia em Milão, Itália, sua visão foi transformada, enfatizando a criação de espaços estimulantes e a importância de áreas de descompressão.

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A arquiteta Maiara Faria, especializada em projetos de arquitetura corporativa. Foto: Marcelo Elias/Divulgação

Em 2023, Maiara entregou projetos para diversas organizações, como Furukawa, Addiante, Alta Defensivos, ArqBrain e Evehx, além de acumular experiência em projetos comerciais e residenciais. Recentemente, compartilhou sua experiência na Disney em uma apresentação na Masotti Curitiba, destacando a importância de surpreender o cliente e cultivar relacionamentos valiosos.

Na entrevista exclusiva à coluna DecorMix, Maiara discute a necessidade de treinamento e alinhamento de objetivos para garantir a satisfação do cliente. Destaca a importância da excelência, humildade e empatia para superar desafios, propondo uma abordagem personalizada, especialmente ao observar o comportamento do cliente. A arquiteta ressalta a relevância da sustentabilidade nos projetos de interiores e a importância de espaços integrados e atraentes para o trabalho presencial.

Confira:

Recentemente você fez uma apresentação sobre a Experiência Disney para um grupo convidado na Masotti Curitiba. Quais os principais aprendizados que você teve ao trabalhar no parque temático?

Nesse programa da Disney e para virar uma funcionária você precisava passar por uma série de entrevistas, fazer treinamento de uma semana e uma prova ao final. Se você não passasse na prova, tinha que voltar ao treinamento e refazer a prova, até chegar no nível desejado. Então a gente aprende que todo mundo precisa estar muito treinado, tudo tem que estar na ponta da língua, todos os processos, todos os objetivos e todo mundo tem que ter o mesmo em mente, para que o cliente não fique perdido e para que ele veja que todo mundo está em sintonia.

A principal lição que eu detecto é sempre focar na satisfação do cliente. E isso se faz combinando alguns fatores. Para surpreender sempre, precisa ter excelência até no erro, ou seja, saber identificar, ouvir e resolver possíveis problemas. Para isso é preciso humildade, empatia, e saber que existe erro e está tudo bem, desde que seja solucionado. Você sempre pode tentar converter e ressignificar o erro.

A satisfação do cliente precisa estar de acordo com o objetivo do seu negócio. Por que você faz o que você faz? E dentro do seu objetivo, como exceder a expectativa do cliente e ir além do que todo mundo faz? Você precisa se destacar com um aumento significativo da expectativa do cliente.

Quando se fala de surpreender o cliente, é fácil imaginar o que significa no campo de entretenimento e lazer. Mas e no atendimento dos profissionais de arquitetura e design de interiores em relação a seus clientes, como isso pode ser feito?

O principal instrumento para me ajudar a surpreender o cliente corporativo é observar o comportamento dele como empresa e o que ele identifica que para ele seria “algo a mais”, o que o surpreenderia. A partir dessa leitura você tenta fazer coisas diferentes no processo, de acordo com o cliente. Isso passa por desmistificar o processo, mostrando para o cliente de forma lúdica o processo que às vezes é muito técnico. Isso pode surpreender.

De forma indireta, gerar sinergia com a equipe da obra é algo importante também. Por exemplo, quando o pessoal está trabalhando muito pesado e a gente precisa manter esse nível de comprometimento e entrega, eu vou lá e compro uma pizza para a pausa deles. O que isso gera é a conquista da mão de obra e cria um clima em que todos estão juntos com um objetivo. Surpreender só é possível quando você alinha as expectativas de acordo com orçamentos, entrega e estética – se você propõe algo que não consegue entregar, não adianta tentar surpreender no processo.

Você mencionou sobre observar o comportamento do cliente para identificar o que ele entende como surpreendente. Como você trabalha a personalização do atendimento com o cliente, quais as dinâmicas e etapas do processo para conhecê-lo melhor?

Realmente tem que ser muito personalizado porque cada empresa que atendo é de um segmento diferente e suas dinâmicas são distintas. Uma empresa do ramo de agronegócio não tem a mesma rotina de uma empresa de tecnologia, por exemplo. Então a leitura inicial é da cultura da empresa e de sua identidade de marca. Como a arquitetura tem uma parte subjetiva, que ele vai ter um resultado após o processo, para ser algo tangível nesse início, eu parto do princípio que o material tem que ter uma apresentação e design para conquistá-lo nessa etapa, para conseguir comunicar o que esperar de resultados.

O meu trabalho enquanto arquiteta especializada em projetos corporativos é para auxiliar a empresa a aumentar a produtividade e o lucro, e preciso mostrar como um projeto de interiores pode gerar isso. Não é apenas incluir uma planta ou propor um lounge que vai dar resultado. Preciso entender o comportamento do funcionário e explicar para o contratante qual a experiência e a rotina que aquele projeto vai impactar: onde o funcionário come, onde ele vai trabalhar, onde vai fazer reunião. A partir de uma apresentação detalhada eu consigo mostrar os problemas que identificamos e quais as soluções que propomos.

Como você lida com desafios e divergências de opiniões durante o processo, como uma mudança abrupta de orçamento ou de decisão? Como manter a satisfação do cliente em situações inesperadas?

Já tive experiência com todos os perfis de cliente, do mais compreensivo ao menos. Uma dica que eu daria é a necessidade da burocracia, esta é uma etapa que não dá para pular. Ter um bom relacionamento, transmitir o conhecimento e experiência acumulados e alinhar expectativa com clientes só é possível e seguro para ambos os lados e tudo estiver assinado e documentado, tudo estar acordado. O diferencial para o atendimento nessa etapa é deixar essa burocracia mais leve, trazendo transparência explicando processos e combinados. Se você combinou enviar um relatório por semana, cumpra o prometido. Calcule o tempo para executar processos, prazo e compromissos com cada cliente, porque sempre estamos atendendendo mais que um cliente simultaneamente.

Diante das mudanças nas formas de trabalho e nas necessidades dos clientes corporativos, quais tendências e inovações em arquitetura são mais relevantes para garantir que os espaços projetados continuem a proporcionar excelência no atendimento?

Com certeza, a sustentabilidade, e isso tem de entrar nos projetos de interiores. Temos várias certificações como LEED, WELL, LBC, entre outras, mas é um desafio levá-las para interiores. Estamos sempre projetando para pessoas, qualquer tecnologia e inovação é válida se as usarmos para continuar focando nas pessoas. Isso é o essencial, não importa se a empresa tem regime de trabalho híbrido, remoto ou fabril, com chão de fábrica. Em relação a projetos no presencial, será cada vez mais relevante espaços integrados, criativos, divertidos, que atraiam o funcionário para trabalhar na empresa.

Quais são os principais desafios que você antecipa para o setor de arquitetura corporativa em 2024?

O mix de gerações presente no board das empresas tem sido cada vez mais comum. A diversidade de opiniões e vivências é ótimo para ampliar horizontes, mas essas visões diferentes muitas vezes entram em conflito e em alguns casos, é difícil identificar quem está liderando. Essa diversidade de visões é evidente, com o RH sendo predominantemente da geração Y, os financiadores sendo da geração baby boomer e os usuários, da geração Z.

O espaço que separa as gerações fica cada vez mais curto – se antes eram pelo menos 15 anos, agora há uma mudança drástica de mentalidade a cada cinco anos, mas as gerações anteriores seguem no ambiente de trabalho, o que requer uma adaptação constante para manter a harmonia e eficiência dentro das organizações.

Mesmo não estando diretamente envolvida na criação de uma nova cultura empresarial, meu papel envolve trazer leveza ao ambiente e compreender as necessidades das pessoas como uma maneira de entender e propor melhorias na dinâmica da empresa. Essa abordagem proativa pode contribuir para suavizar as transições geracionais e promover um ambiente mais colaborativo e eficaz.

Melissa Mussi | [email protected]