A Era Virgil Abloh

DE PARIS | Ana Clara Garmendia | anaclaragarmendia@gmail.com | Instagram @anagarmendia

O mundo já tem o divisor de águas para abrir um capítulo nos livros de história da moda: Virgil Abloh. Um designer americano, 38 anos – engenheiro civil de formação, filho de africanos, pai de família, amigo fiel de gente famosa como Kanye West e Kim Kardashian e atual Diretor Artístico do masculino da Louis Vuitton.
Além de tocar sua própria marca, a Off-White, e estar lançando uma linha própria de joias, Abloh é adorado pelas supermodelos Naomi Campbell e Natalia Vodianova, entre outras celebridades – e eu, fã longínqua, admiradora de sua trajetória. 

Atualmente, Virgil apadrinha Rihanna nas modas (dizem que é ele quem está fazendo o meio de campo para a cantora e power woman lançar mais uma marca, desta vez, de roupas e acessórios em parceria com a LVMH). 
O estilista é um cara sensível que consagra a diversidade da maneira mais amorosa possível: lembrando sempre que ela existe, colocando sua bandeira sempre em suas apresentações. 

Fazia frio na tarde de ontem (17), aqui em Paris. O desfile da Louis Vuitton foi marcado para às 14h3O no Carré des Sangliers, um espaço efêmero dentro do Jardin das Tuileries, lugar onde, no século 18, Maria Antonieta, a última rainha da França, passeava quando estava em Paris desfilando seus delírios fashionistas. Abusos que a levaram ao declínio junto à população francesa até ser decapitada num dia 21 de janeiro de 1793, bem ali na frente da Place de la Concorde. 
Abloh está ali com carta branca para abusos que vão fazer a LV alavancar vendas no mundo inteiro. Não há declínio! Todos querem algo da Vuitton de Abloh, o primeiro negro a assumir um cargo de direção na casa. E ele já revoluciona ao misturar códigos do hip-hop aos costumes chiques e clássicos de um homem que pode pagar por produtos Louis Vuitton.

Esta temporada tem um homenageado: Michael Jackson, outro fashionista talentoso, obcecado por música, beleza, detalhes, abusos. O convite era uma luva branca cravejada de brilhantes como as que MJ amava usar. Mas a coleção de Abloh ultrapassa um tema. Trouxe como cenário uma rua de Nova York com uma barbearia unissex (bien sür) e algumas roupas com a bandeira do estado americano de Indiana, onde Michael nasceu e se criou. Um tanto complexo de explicar e entender, pois trata-se de uma construção.

O inverno 2020 tem até saias longas plissadas, ternos largos, conjuntos utilitários que parecem roupa de escoteiro e uma série de símbolos estofados em relevo nos acessórios que se acoplam às roupas (uma marca da era Virgil na Vuitton). Tem ainda cores como púrpura, vermelho, bege e cinza. 
Tanto texto para dizer que entender o que Virgil faz hoje na Louis Vuitton é entender a totalidade e complexidade do mundo pop que extrapola likes nas redes sociais. Estamos sob o reino de um homem de talento extraordinário que une muitos mundos em um só e todos se comunicam perfeitamente. A comunidade internacional agradece. Virgil é amor.

Fotos: Reprodução Vogue.UK

O ano do vermelho – Uma das cores que Michael Jackson mais usava é vermelho. Em 2019/2020 ela é apontada como predominante. A monocromia vem forte e tem cara de uniforme, bem ao estilo dos costumes de cena que o genial artista usava, só que na leitura do também genial Abloh.

Streetwear – Um momento bem simplificado com camiseta dedicada ao ícone, sem esquecer do toque Hip-hop das calças largas utilitárias e seus bolsos enormes. O homem 2019/ 2020 tem delicadeza, sensibilidade e é livre para misturar vários códigos e carregar uma bolsa na mão. O tempo é da diversidade incorporada ao modo de vestir.

Conforto – Pois, é! Tem bege, saia plissada, moletom de hip-hop e acessório na roupa que homenageia MJ e vai ser consumida por homens e mulheres de todos os continentes por onde a Louis Vuitton passa.

Purple again – A bandeira do estado de Indiana, onde Michael Jackson nasceu e foi criado, apareceu também em monocromia. Ah, anota aí a volta dos óculos com lentes espelhadas nas cores do arco-íris.