Conservadorismo até na moda?

Larissa Jedyn, jornalista e consultora de imagem e estilo | ljedyn@gmail.com
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No começo do século passado, os corpos femininos eram comprimidos para estarem na moda (florida-memory-unsplash)

Os trajes esportivos foram inspiração para looks mais soltos (the-australian-national-maritime-museum-unsplash)

Vocês já repararam como comportamento e moda conversam? Só dar uma olhada para a história do mundo e perceber as inovações na indumentária, sobretudo das mulheres. Os corpos amarrados nos corselets, que sustentavam os seios, afinavam a cintura e delineavam os quadris, começaram a ser emancipados na Revolução Francesa. O lema “igualdade, fraternidade e liberdade” liberou, ora vejam, também os corpos. Ainda na França, Coco Chanel se apropriou, tempos depois, de peças do guarda-roupas masculino para redesenhar a silhueta, menos marcada, mais lânguida, menos sexualizada. O pós-guerra, em contrapartida, reeditou a feminilidade, com o New Look de Dior, glamurizando os corpos bem desenhados depois dos tristes anos do conflito. No fim dos anos 1960, ativistas do Women’s Liberation Movement queimaram sutiãns em praça pública e a era do amor livre se iniciava.

Esse vaivém é natural, como um zeitgeist (espírito do tempo) fashionista. Ou seja, não se enganem que a moda da vez é somente fruto de uma criação fantasiosa e despretensiosa de estilistas da hora. Tudo pensado, minha gente. Um indício disso se vê agora mesmo na Paris Fashion Week. A retomada conservadora surge também na moda, que recupera materiais nada sustentáveis — como pele e couro —, silhuetas sisudas e pouco inventivas, além de se valer dos pouco confortáveis e muito questionáveis corselets (olha eles de novo).

A jornalista de moda Ale Farah postou nas redes sociais um comentário sobre o desfile belo e castrador da Schiaparelli. Segundo ela, a grife trouxe looks supertrabalhados e executados com técnica de primeira. “Somos agora reféns da técnica?” Chanel, à sua época, liberou os corpos, alimentou a emancipação feminina, e, agora, apertamos, redesenhados e punimos nossas curvas. De novo. “Essa é a proposta de Paris, cidade luz, para nós?”, provoca.