A escola sobreviverá?

Por Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

É forte a discussão a respeito da possível sobrevida das instituições escolares, instaladas ainda hoje quase que nos mesmos moldes de séculos atrás, já que não desconhecemos que a qualidade que mais permitiu a sobrevivência de nossa espécie é a adaptabilidade. Sobrevivemos a predadores mais fortes, a mudanças climáticas, a desastres naturais, sempre mudando como foi necessário para responder a uma natureza implacável. Conseguimos até o prodígio de sobreviver a nós mesmos, a nossas estúpidas guerras e genocídios.

Os povos que não conseguiram mudar hábitos demasiadamente arraigados já sem real motivo de existir, ou relutaram demais em deixar lugares que se tornaram inóspitos a ponto de não prover seu sustento, provavelmente pereceram deixando apenas uma lembrança na História.

A evolução tecnológica e de modos de produção apresenta um dos maiores desafios que enfrentamos, novas técnicas e novas ideias são sempre ameaçadoras para quem cultiva velhos hábitos e sente-se seguro neles. E sempre, praticamente sem nenhuma exceção, as novas propostas em qualquer área foram recebidas como sacrilégio, pecado, conduta antissocial, diversionismo, fascismo (ou qualquer de suas variantes), comunismo (idem), fauvismo e o rótulo que se queira; atualmente vogam os rótulos vinculados ao ambientalismo e ao politicamente correto.

Toda forma de inconformismo enfrentou e enfrenta proibições obsequiosas, ou não; desde as heresias religiosas da Idade Média, às heresias políticas de nossos tempos, passando por propostas filosóficas, científicas, artísticas, ou quaisquer outras que não se enquadrem no oficialismo formal ou informal.

Os grandes balizadores de nosso tempo são o conhecimento e o aprendizado, e seus paradigmas já mudaram e parecemos não ter percebido. Muitas escolas e professores lamentam que seus alunos não parecem estar interessados no que têm a lhes oferecer, como se os antigos valores educacionais e a antiga promessa da educação já não tivessem mais encanto.

E é verdade pela metade, como as melhores verdades: os jovens são curiosos, querem aprender, a maioria deles sabe que terá melhores oportunidades na vida se tiver um diploma e o conhecimento por ele atestado. Infelizmente, muitos deles parecem esperar da escola apenas o certificado, talvez porque não lhes seja oferecido nada realmente significativo a seus valores e expectativas além disso. Os torturantes métodos pedagógicos fundados em decorar tabuadas, tabelas infindáveis de logaritmos, funções algébricas e trigonométricas, estão superados pelas calculadoras simples que podem armazenar todos esses dados. A grande questão não é o acúmulo de informações facilmente acessadas, e sim seu uso correto.

Segundo o pesquisador Boaventura de Souza Santos, as instituições escolares passam por uma crise motivada principalmente por três dimensões: a hegemonia, a legitimidade e a cidadania. Isso aconteceria porque escolas não são mais a fonte exclusiva de conhecimento e validação social. Os tablets e smartphones, tantalizantes bolas de cristal de nossos dias, contêm toda a informação, a diversão e a comunicação que interessa aos jovens; que, aparentemente, não perguntam de onde vem tanta sabedoria. Talvez a escola deva se repensar no papel de lhes contar, utilizar as novas tecnologias para aquilo que toda tecnologia existe ou deveria existir, que é melhorar as condições de vida, aprendizagem e sobrevivência das pessoas.

A escola do século XXI tem o dever de mudar porque o mundo mudou, as sociedades mudaram, e seus alunos precisam dela como sempre precisaram, porém em nova realidade com novas demandas. A única resposta eficaz às mudanças é a própria mudança, o imobilismo leva à morte do pensamento.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.