Quase tudo em nosso mundo ocidental atual promove o elogio da mobilidade, flexibilidade, comportamento agressivo, confronto, falta de medo e outras características que elegem a juventude como modelo. E os jovens parecem pouco pensar na velhice: a compreensão, as mudanças de comportamentos, as dificuldades corporais, o estilo de vida, ideias e sentimentos daquilo que caracterizaria esta fase.
Pressente-se que um dia acordarão com certa idade, sem ter preparo para a própria velhice e sem ter levado em conta as crenças e preconceitos vigentes sobre esta etapa da vida, e com estereótipos negativos sobre o tema. A respeito da velhice, lê-se pouco, constroem-se poucos saberes e muitas vezes respeita-se menos ainda.
De acordo com dados do IBGE, o Brasil tem hoje mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, uma parcela significativa da população, que cresce vertiginosamente, até porque o índice de natalidade cai também assustadoramente. As pessoas atualmente, seja por necessidade de acumular bens, dificuldade de manter empregos, apologia a um tipo de acúmulo de capital que exige viagens e artigos de luxo, tem muito menos filhos que algumas décadas atrás. Somando-se às perspectivas de saúde que permitem combate a muitas doenças e uma vida mais longa, isso representa uma mudança estrutural que, no entanto, ocorre sob um sistema que reconhece quase exclusivamente a capacidade de produzir valores de mercado, e não os de preservação de memórias, busca de sentido para a vida, solidariedade comunitária e empatia para com o próximo.
Se ainda considerarmos que no país a quase totalidade dos idosos vive com até dois salários-mínimos, a pobreza entre eles tem crescido, e os que trabalham o fazem para complementar a verba familiar, não sendo raros aqueles entre eles que são arrimo de família, então a questão do “envelhecimento ativo” apenas representa a volta do idoso ao mundo do trabalho em condições precárias.
O aumento do número de idosos no Brasil aparenta ser irreversível, vem aumentando de maneira progressiva e levando à necessidade de maior conscientização por parte dos jovens, pois hoje o “declínio da vida adulta que precede a morte” é, antes de mais nada, uma crise social.
Na grande maioria dos casos, estão apartados das novas tecnologias, apresentam menor agilidade mental em função das inúmeras dificuldades existenciais, e não podem, salvo raras exceções, estarem com bom desenvolvimento intelectual e bem adaptados aos novos tempos.
Embora seja perceptível um novo cuidado para com esta faixa etária, com novos paradigmas para a senescência, definindo esta fase como um processo determinado por fatores psicológicos e socioculturais que necessitam estudos, tanto de tecnologias arquitetônicas (pisos antiderrapantes, sensores de quedas, rampas) quanto de necessidades psíquicas, o meio ambiente em que vivemos é ainda muito direcionado exclusivamente aos mais jovens.
Embora saibamos que a exclusão digital impede o acesso aos direitos, à informação de qualidade e ao convívio na comunidade, e que estar desconectado pode aumentar o risco de vida dessas pessoas, poucas oportunidades são oferecidas em cursos específicos para dominar ferramentas da internet, melhor utilização de celulares, cuidados alimentares, por exemplo. Aliás, escolas raramente oferecem atividades gratuitas dedicadas à terceira idade, e como a dificuldade financeira pode fazer parte das contingências do envelhecimento, pode-se considerar que a invisibilidade social é também uma de suas consequências.
O convívio entre aqueles na fase inicial e final da vida, que sempre foi natural nas sociedades ao longo da civilização, com idosos auxiliando a criar e a orientar as crianças, tem caído em desuso tanto pelo prolongamento da vida laboral quanto pelo desinteresse pelas histórias contadas pelos mais velhos, já que vídeos, desenvolvimento de personagens, música e recursos de edição de texto tem deixado o mundo digital cada vez mais deslumbrante para os mais jovens.
O crescimento se dá, portanto, sem muita proximidade com faixas etárias mais distantes, e até dos próprios pais, mais próximos na idade, mas ferozmente envolvidos na competição profissional; num mundo com cada vez menos chance de riqueza para todos, muitas vezes estes também se tornam um pouco mais apartados de crianças que estão com telas sempre ao alcance dos olhos, eventualmente desaparecidos dentro de seus quartos utilizando o computador em sites desconhecidos pelos adultos e por vezes perigosos.
A convivência de idosos e aqueles em idade escolar seria benéfica para ambos, mas poucas famílias hoje têm condições de aproveitar as vantagens que dela poderiam advir.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.