Recentemente políticos ocupam as mesas diretoras dos plenários da Câmara e do Senado, travando pautas importantes para a população e para o país para atender seus interesses, que aparentemente não tem aprovação da maioria, e é preciso refletir sobre aceitação de diferenças na prática, e não apenas nos discursos.

O inconformismo e a tentativa de impor, pela força, seus posicionamentos sem aceitar que nem todos tem a mesma visão, é essencialmente uma expressão de intolerância com as regras sociais e de funcionamento dos cargos para os quais foram eleitos, para não falar da constitucionalidade de alguns procedimentos.

De forma geral, expressões de intolerância, que antes não tinham espaço na sociedade, têm sido aceitas, e percebe-se claramente que pessoas têm confundido discursos de ódio com liberdade de expressão, chegando ao desrespeito total das normas de convivência.

As várias plataformas midiáticas, espaços onde mais se observa novos casos de desrespeito, permitem aos poucos que este procedimento não fique somente no espaço virtual; aumentam casos de violência contra a mulher, contra negros, contra estrangeiros, injúria, discriminação, como se houvesse uma “autorização” desta essência malvada, que antes eram escondidos.

Na verdade, isso representa uma relação de poder de grupos contra seus rivais, de pessoas contra outras, com desrespeito, menosprezo, uma causa, um posicionamento de pertencentes a um partido contra seus oponentes, para legitimar as suas posições de poder, para impor sua vontade sobre os demais. Subjugar o outro para se sentir mais forte, mostrar que seus conceitos representam verdades e, geralmente, para obter vantagens materiais indevidas.

Ao lado do desenvolvimento da tecnologia, que poderia nos proporcionar melhor qualidade de vida, agredir, cometer barbáries, numa intolerância atrelada a questões psíquicas, desequilíbrios hormonais e/ou mentais, que se manifestam como pressão social.

Estas diferenças culturais entre pessoas, grupos ou instituições que queiram integrar, em um todo homogêneo, as peculiaridades comportamentais, de hábitos, visões de mundo e valores tornam-se impossíveis; a diversidade só é obtida em circunstâncias muito particulares, e hoje é uma questão política espinhosa, porque cada vez mais a identidade coletiva parece definir-se em termos ideológicos, de etnicidade, cultura, herança e tradição, que preza o direito à diferença.

Nos estados democráticos, as grandes organizações, associações, sindicatos, partidos políticos, tendem a substituir os indivíduos, e se tornaram os protagonistas da vida política. Assim, para não perder este vínculo com sua corporação, o indivíduo volta-se demais para os seus até o ponto da intolerância, e tendem a constituir perigo para os mecanismos de integração até então assegurados pelo Estado e Constituição.

Mesmo que saibamos que a identidade nacional é uma ilusão, temos um corpo fragmentado de habitantes numa nação desprovida de direitos, e o Brasil tem absoluta heterogeneidade humana e cultural, tanto que, uma obra de 1928, Macunaíma, já parodia a diversidade nacional e suas contradições entre o diverso e o diferente, com personagem emblemáticos, um herói sem qualidades – sem nenhum caráter – em busca de uma pedra de poder desaparecida (o muiraquitã), Atrai o riso pela diferença em relação ao pensamento dito culto e civilizado. No entanto, fora da ficção literária, acompanhamos pela mídia certos atores reivindicando, com muita seriedade, os seus “muiraquitãs”, isto é, as suas “pedras de poder” que consideram desaparecidas.

No sistema republicano o povo elege seus representantes, aqueles que vocalizam seu pensamento e necessidades. Idealmente, esse pensamento deveria ser filtrado pela vontade e necessidades reais da população e do país, mas essa vontade é confundida muitas vezes com os interesses, alguns inconfessáveis, do representante, que então perde a legitimidade. Políticos com mandato supostamente limitado no tempo deveriam, num mundo ideal, dedicar-se a realizar o melhor possível nesse período, mas parecem preocupar-se unicamente em ser reeleitos indefinidamente, sabe-se lá para que, ou pior, sabe-se muito bem.

Enquanto isso, a educação é esquecida, as escolas públicas – com raras exceções – vão se arruinando do ponto de vista estrutural, professores ganham insuficientemente e precisam cumprir jornadas exaustivas para sustentar suas famílias. As dificuldades de atualização, de lazer, de manter uma boa vida cultural, impedem um bom exercício profissional; alunos são atingidos no convívio diário.

Docentes não tem um “congresso” onde podem atingir a mídia acional, levando todas as suas justas reivindicações.

Wanda Camargo – Educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.