Desde tempos imemoriais a utilização de objetos como colares, pulseiras, brincos, ou a pigmentação temporária ou definitiva da pele no rosto ou no próprio corpo tem sido utilizadas, pois a necessidade de se enfeitar é inerente ao ser humano.
Há dois motivos básicos no uso de adornos, medalhas, tatuagens, piercings, joias, bijuterias e todos os tipos de enfeites e adereços: uma é estética, usa-se por bonito, para se destacar com alguma coisa que se admira e espera que os demais também admirem; outra é simbólica, medalhas esportivas, acadêmicas ou militares atestam que o/a portador/a teve mérito para ganhá-las, e se diferencia dos demais.
Contrariando o sábio da antiguidade Terêncio, quase tudo que é humano pode sim ser estranho, as funções se imbricam, os objetivos se confundem, medalhas são enfeites, joias são quase medalhas representativas do mérito de quem as ostenta, mérito financeiro muitas vezes, tatuagens e piercings são provas de resistência à dor dependendo de onde se localizam.
Marcas sobre o corpo são coisas antigas, mais do que pensamos, arqueólogos e antropólogos confirmam isso em achados de mais de dez mil anos, nossos ancestrais também usavam adornos variados por prazer estético e/ou prova de hierarquia. As tatuagens guardaram por muito tempo a “maldição de origem”, eram usadas por marinheiros que as faziam nos mares do sul do mundo imitando os povos locais, ou então por presidiários necessitados de algo que lhe desse individualidade.
Em desuso até alguns anos, hoje parecem estar em evidência, tatuagens tornam-se cada vez mais presentes em corpos jovens e não tão jovens. Os desenhos sobrepostos à pele parecem ser associados ao pertencimento a determinados grupos, a determinadas modas e declarações implícitas de rebeldias como resposta a questões estéticas, econômicas, socioculturais e ambientais. Hoje, aceitas socialmente, são quase obrigatórias; algumas muito bonitas, outras nem tanto, todas certamente dolorosas e significativas.
Parece não existir nada tão poderoso na mente humana quanto a beleza. Poder, dinheiro, reconhecimento, nada tem significado se não se destinar à beleza, às infinitas e pessoais definições de beleza. Ser belo, adquirir a beleza, roubar a beleza, imitar a beleza, assumir todos os signos que são divulgados sobre aquilo que é reconhecido pelas, no dizer de García Márquez, rainhas da beleza. Embora possa ser contestado facilmente, esse conceito é único e imutável. Busca-se a juventude, a saúde, o poder, mas a pergunta é: “para quê?”
Pouco se compreende o motivo da compulsão de obter adornos, materialmente não necessários à sobrevivência; os primeiros seres humanos desenvolveram procedimentos e instrumentos para confeccionar adornos corporais, que talvez estivessem ligados ao sagrado e magia. Possivelmente representariam proteção, contra perigos como predadores ou até condições meteorológicas adversas. Ao utilizar dentes de feras como pingente, talvez fosse possível adquirir sua força e agilidade.
O adorno, em qualquer civilização, mesmo a mais rústica e pouco desenvolvida, além de função estética, parece ter sido associado a aspectos financeiros, místicos e de ostentação de poder.
Enfeites quase sempre estão carregados de valor simbólico, desde a época das cavernas, quando eram feitos de ossos, conchas, pedras e penas mostravam-se repletos de significados: a conquista de animais caçados, rituais para acalmar ou agradar deuses, amuletos de proteção.
Seres humanos sempre trouxeram junto ao corpo objetos como figas, medalhas, com “poder mágico” capaz de afastar o mal, e no antigo Egito o seu uso pode ser observado tanto em peças preservadas nos túmulos como nos desenhos das paredes, com seus deuses representados por meio de animais.
O uso de joias sempre teve como característica demonstrar devoção, mesmo antes das medalhas de santos ou relicários, pois o início da consciência metafórica dos seres humanos parece estar marcado pelas práticas rituais de enterrar os mortos, a arte rupestre e a presença de adornos corporais, sendo estes últimos considerados indícios inequívocos de transcendência.
Alguns são agregados permanente do corpo, tais como as tatuagens e escarificações voluntárias, alguns podem ser facilmente removíveis, como colares, pingentes, braçadeiras, tornozeleiras, pulseiras, e ainda outros podem provocar alterações corporais definitivas, como esticadores de pescoço e alargadores de orelhas e lábios.
Escolas são locais em que a visão de muitas “tribos” é facilitada pelos adereços utilizados pelos estudantes, que mostram suas identificações e personalidades em formação.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.