O termo ageísmo começou a ser utilizado antes de 1970 para definir o preconceito relacionado à idade, seu uso vem se intensificando com o forte preconceito e discriminação contra pessoas idosas, e tem sido considerado o terceiro grande ‘ismo’ identificado nas sociedades ocidentais, logo após o racismo e o sexismo.
O ageísmo, no entanto, é diferente de outras formas de discriminação, pois desde que vivamos o suficiente para envelhecer, todos estaremos sujeitos a nos inserir nessa categoria. Embora os julgamentos sociais cotidianos sejam comumente baseados no tempo vivido, quando o uso da idade cronológica começa a ser utilizado para determinar que recursos e oportunidades sejam negados, as políticas e práticas sociais passam a ser de segregação, e a comunidade perde a visão de futuro.
Envelhecer, ao lado das características físicas alteradas, traz também um viés psicológico já que a percepção do envelhecimento provoca ideias associadas ao medo da morte, da deterioração física e mental, o que provoca sentimentos conflitantes e impede que os mais jovens se imaginem ou identifiquem como idosos.
Por outro lado, a diminuição da produtividade traz consequências econômicas, que impulsionam a marginalização e acarreta uma forma sutil e implícita de preconceito contra as pessoas idosas, como se estas prejudicassem o desenvolvimento financeiro de toda a sociedade, sem lembrar que elas normalmente já contribuíram ativamente.
Idosos não foram percebidos como figuras negativas desde sempre: nos registros bíblicos, pessoas longevas eram consideradas prediletas de Deus, e até o século XVIII eram vistos com profundo respeito e consideração, considerados sábios nos locais que habitavam. As experiências de vida e conhecimento do passado eram valorizadas pelos mais jovens como fonte de ajuda e conselhos.
A invenção da prensa móvel foi um dos acontecimentos históricos que auxiliaram a mudança do papel dos idoso, pois informação e conhecimento que antes estavam apenas em algumas memórias passaram a ser escritos e divulgados sem a necessidade dos mais velhos.
Antes da Revolução Industrial a organização social era mais agrária e rural com muitas gerações de uma mesma família morando juntas; os mais jovens cuidando da produção de alimentos, vestuário e ferramentas e os idosos auxiliando no cuidado com as crianças e tomadas de decisão, estreitando os laços familiares. A ocorrência daquele evento determinou que pessoas mudassem de moradia e obtivessem emprego externo, em fábricas, os idosos que não atendiam essas exigências passaram a provocar ressentimentos. Envelhecimento reduz não apenas a força física ou a visão, mas também a qualidade de vida como um todo, a autonomia e a independência; estas características físicas, cognitivas e sensoriais afetam as necessidades sociais e afetivas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe a criação de esforços concretos para combater o estigma em relação ao envelhecimento, já que em 2030, uma em cada cinco pessoas no mundo terá 60 anos ou mais, totalizando 2 bilhões de pessoas idosas. O Brasil será então o sexto país do planeta em número de idosos; saúde pública é um desafio por ser ainda muito grande a desinformação sobre a saúde do idoso, as medidas necessárias ao envelhecimento populacional e mesmo que atitudes negativas podem gerar efeitos adversos, especialmente em ambientes voltados à prevenção e restabelecimento da saúde, como hospitais e postos de pronto atendimento, unidades muitas vezes não preparadas para o adequado acolhimento desta faixa etária.
É necessária a desconstrução dos estereótipos negativos associados à idade para uma sociedade mais saudável e inclusiva, e isso é também função de nossas escolas. É desde a primeira idade que precisamos deixar de mostrar idosos como doentes, depressivos, inflexíveis, solitários, improdutivos, frágeis e sem energia; cabe às instituições escolares, ao lado das famílias, a reinvenção da convivência saudável das várias idades.
Da mesma forma que o uso de tecnologia na produção possibilitou o acesso irrestrito da mulher a tarefas e carreiras que anteriormente dependiam de força física, poderá também tornar os idosos parte significativa da sociedade.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.