Na Grécia antiga a arrogância era crime, muitos gregos foram punidos por comportamento arrogante. Próxima à soberba e ao que denominamos hoje “esnobismo”, arrogância é a característica da falsa superioridade, de quem se acredita acima ou melhor que os demais e age e pensa de acordo com isso. Entre os gregos os arrogantes eram associados aos “idiotas”, termo que definia aqueles que se recusavam a participar das atividades do Estado e da sociedade, algo imperdoável em comunidades coesas e restritas, embora limitadas aos cidadãos livres dentre maiorias de escravizados.

A arrogância, individual ou partilhada social e coletivamente, não possui uma face única, mas tem presença nas nossas configurações históricas, tanto que a cultura japonesa sempre estimulou seus artistas a colocar um detalhe imperfeito em sua obra, em parte para estimular a modéstia, em parte para combater, como norma, uma natural arrogância e soberba que acomete os criadores em todas as artes.

Hoje, este sentimento é normalmente identificado ao de orgulho, muito próximo do egoísmo; ambos são duramente combatidos na tradição e filosofia religiosa cristã, por se opor à humildade, seu exato oposto.

Seria importante ao homem reconhecer o poder de uma divindade, diante da qual suas obras ou importância pessoal nada significam; mas infelizmente até entre pessoas que se dizem profundamente religiosas encontramos muitos arrogantes. Muitos religiosos, sinceramente comprometidos com os ideais de suas crenças, vêm como um grande problema o orgulho de ser humilde que acomete até os melhores deles; a certeza de que os sacrifícios, a caridade, os jejuns e mortificações os assemelham à divindade gera presunção e arrogância, a falsa humildade que muitas vezes o próprio arrogante acredita ser verdadeira. Orgulho, o pecado que perdeu os anjos.   

Se levarmos em conta as condições das desigualdades e violências atuais, ser arrogante, poderoso, sem limites, tornou-se algo muito próximo a um valor.  Crescendo de forma desmensurada no individualismo contemporâneo, o comportamento narcisista revela-se em todos os campos: cultural, financeiro, econômico, pois as comunidades mostram-se cada dia mais individualizadas, e estranhamente, ao mesmo tempo massificadas.

Apesar da arrogância ser combatida pela ética e pela moral, pois é contrária ao respeito que se deve aos demais, a contenção, que seria seu inverso, pretenderia controlar o desejo de dominação do homem pelo homem,  que podem levar à escravidão, às guerras e, tempos de redes sociais, à falsa camaradagem e aos favores, às “curtidas”, forma de existir socialmente pela valorização diante de todos.

A busca saudável pelo bem estar pessoal inclui a autoestima e o amor próprio como essenciais, mas pede equilíbrio e bom senso nessas qualidades, algo certamente difícil e que exige grande maturidade.  Muitos psicólogos dedicados ao tema afirmam que arrogância é, de certa forma, contagiosa, já que aqueles que convivem com arrogantes tendem a assumir comportamentos prepotentes, ou seja, emulam as atitudes dos presunçosos e esnobes como se fossem um modelo a ser imitado.

Talvez represente uma forma de autoproteção, atitudes desdenhosas devem parecer uma característica das pessoas superiores, e a adesão a este comportamento faz sentir como se ela fosse participante do seleto rol dos melhores, bastando assumir comportamento típicos de tigres para transformar-se imediatamente num felino de grande porte.

Não por coincidência, filhos de arrogantes assumem atitudes desrespeitosas e insolentes desde muito cedo, o que sabem perfeitamente professores que trabalham com crianças ou mesmo jovens.

O modelo absorvido no círculo mais próximo de convivência é forte e quase indelével, necessitamos de escolas profundamente dedicadas e de boa qualidade para formar bons cidadãos.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.