Autismo – algumas considerações

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

“De perto ninguém é normal”. A frase da música “Vaca Profana” de Caetano Veloso, expressa uma realidade inescapável, nenhum de nós está totalmente ajustado a um padrão geral que definiria a normalidade, o que é positivo pois é na soma das características particulares de cada pessoa que reside a normalidade da espécie humana.

Até há poucos anos “existiam” muitas pessoas rotuladas de excêntricas, esquisitas, até antissociais, de todas as idades – mas com maior crueldade quando o rótulo se aplicava a crianças com dificuldade ou até impossibilidade de relacionamento. Grande parte dessas pessoas era portadora de uma síndrome, descrita e estudada desde o início do século passado, chamada Transtorno do Espectro Autista – TEA, um distúrbio de desenvolvimento neural com comunicação e interação social deficitárias, com padrões de comportamento repetitivo, além de outros sintomas.      

O autismo ocasiona problemas no desenvolvimento da criança, provocando dificuldades em aspectos relacionados à socialização, como comunicação, interação, participação em atividades grupais e aprendizado.

Dentro do inexplicável negacionismo que assola o uso de vacinas, a maior parte delas fundamental até para salvar vidas, associou-se à vacinação o surgimento de maior número de casos de autismo, num oportunismo desonesto e criminoso; não houve aumento proporcional na ocorrência da TEA, e sim maior conhecimento, diagnóstico e divulgação da síndrome.

Muitos adultos hoje reconhecem em si os sintomas, e percebem que na verdade não foram crianças extremamente tímidas ou “estranhas”, mas sim autistas não diagnosticados. Crianças com autismo podem despertar frustração em famílias ou professores, pelas suas dificuldades de relacionamentos, resistência a sons altos, relutância em aceitar desafios, participação e interação social diminutas.

Mesmo havendo um diagnóstico, hoje normalmente feito numa faixa etária menor pela divulgação das características, tem sido na educação infantil que professores tem lidado com o impacto da experiência, embora os cuidados necessários estejam se difundindo bastante.

É importante, no ambiente escolar, que sejam realizadas análises por especialistas experientes na busca de diagnósticos corretos, na busca da preservação do senso de autoeficácia, ou seja, a crença de uma pessoa em sua habilidade para atingir resultados almejados, o que implica no sentimento de frustração e incapacidade tanto pelos estudantes quanto pelos docentes e familiares.

É nesta fase que, longe da proteção da família, mais as habilidades de estabelecer vínculos são necessárias, o que amplia o repertório vivencial e também os medos, na criança e em seus pais. A etapa pode ser compreendida como a de construção da realidade, maneiras de perceber o mundo e os acontecimentos, um processo interativo de interpretação das relações com o meio. No contexto escolar, isso interfere no processo ensino-aprendizagem, pois além dos conteúdos específicos, todas as ideias, julgamentos e valores a respeito dos temas se manifestam, de forma consciente ou não. Professores ainda aprendem, na prática, a trabalhar com estes alunos, e algumas escolas contam com sala de recursos para a educação especial, o que constitui  um precioso auxílio.

Ainda que haja um número significativo de crianças diagnosticadas com autismo no Brasil, não há estudos de prevalência sobre o autismo que apresentam números oficiais. Assim, considera-se que o país pode ter aproximadamente 2 milhões de pessoas com autismo, segundo estimativas globais da ONU de 1% da população ser autista, entre os que apresentam graus leves ou intensos do transtorno, aproximadamente. O Brasil, conforme projeção do IBGE, ultrapassou os 208 milhões de habitantes em agosto de 2018, e principalmente o transtorno do desenvolvimento grave é bastante desconhecido.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é assegurado como dever do Estado garantir o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino”. Crianças com TEA dependem de apoio especial para se desenvolverem no espaço escolar, participando das atividades para atingir aprendizagem e formação cognitiva, quanto melhores nossas escolas mais eficiência na inclusão de todos.

Wanda Camargo- educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.