Boa escolaridade, pouca educação

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Quando pessoas na política decidem falar sobre educação, na maior parte das vezes deixam claro que praticamente nada entendem da área, apenas tem interesse eleitoreiro e/ou de promover grande economia cortando gastos ou até promovendo ações de marketing pessoal.

De forma geral são tecnocratas de excelentes salários e boa escolarização em diversos cursos, mas com baixo conhecimento no assunto que abordam.

Não compreendem exatamente o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), como interpretá-los para escolas com dificuldades específicas, qual o problema em alcançar índices que seriam desejáveis nas  planilhas elaboradas por aqueles que nunca pisaram numa sala de aula e veem a escola como uma empresa, que basicamente não tem função social, são úteis para manter crianças convivendo umas com as outras e dando sossego aos pais, e não reconhecem a função do Ideb como norteador de políticas públicas educacionais.

Em acordo com o IBGE de 2022, quase 26 milhões de habitantes vivem em áreas rurais, e para esta população propostas como  os Programa Nacional de Educação do Campo, a Escola da Terra, o Programa de Acompanhamento e Formação Continuada para o Ensino Multisseriado no Processo de Alfabetização e alguns poucos outros são destinados.

Materiais escolares específicos para essas turmas são providenciados pelo Programa Nacional do Livro Didático, e o próprio Programa Mais Professores para o Brasil, uma iniciativa que ofertará bolsa para docentes da rede básica lecionarem em escolas com pouca oferta de professores, principalmente em escolas rurais, foram recentemente lançados.

Sem evidentemente obter resultados de um dia para o outro, pois alterar a profunda falta de qualidade escolar cultivada por anos e anos de indiferença ao processo educativo de massa, já que o Brasil sempre pareceu entender que a boa educação estaria destinada aos filhos das elites, enquanto aos pobres bastaria assinar nome e entender recados básicos de seus patrões.

Mudar esta realidade implica em ótimos professores, bem formados, estrutura física compatível com as necessidades didáticas e convivência agradável, uma melhor ainda administração de cada unidade escolar.

Atribuir a responsabilidade pela gestão escolar a pessoas totalmente estranhas ao setor, mesmo com oposição das comunidades escolares e desrespeito à legislação que versa sobre democracia escolar, tais como contido no Artigo 53 da Lei no 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), no artigo  206 da Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, possivelmente será uma aventura de desfecho desagradável, após gastar muito dinheiro, tempo e esperança da comunidade.

O desprezo ao ato de escuta a familiares e professores, a elaboração de eleições realizadas sem que ambos os lados tivessem acesso aos “eleitores” para esclarece-los, propondo soluções muitas vezes rejeitadas pelos diretamente interessados, provoca mágoas e afasta cada vez mais dirigentes e dirigidos, os quais em princípio deveriam estar do mesmo lado, já que educar é um ato solidário.

Ninguém educa sozinho, o grande escritor e educador Leon Tolstói declarou que era necessário toda uma aldeia para educar uma criança. Isso é profundamente verdadeiro, pois como ensinar noções de boa convivência, regras de civilidade, empatia e solidariedade além da língua materna e da matemática para aqueles que não vivem em sociedade?

O respeito à opinião de todos, a não imposição pela força da decisão de poucas pessoas – principalmente quando essas não tem o real domínio do assunto – pela simples tradição de que “chefes sabem mais” parece atitude de pessoas que, não gostando de ler determinado livro, querem que ninguém mais o leia. Ou, ainda mais grave, não tendo lido determinado livro por preconceito, exigem que este não seja lido por quem quer que seja.

Num país que desvia para a corrupção grande parte de seu orçamento, em que evidentemente algumas pessoas com acesso às verbas públicas enriquecem absurdamente, educação não é vista como investimento.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil