Embora no Brasil o Carnaval tenha começado com uma festa trazida pelos portugueses no século XVII, denominada “entrudo”, que representava o começo, a entrada para iniciar a liturgia da Quaresma, uma comemoração alegre, porém muitas vezes violenta, envolvendo brincadeiras como andar pelas ruas jogando farinha, barro, lixo nas pessoas, que disseminou-se por várias regiões do país e perdurou até meados do século XIX, apesar das tentativas de proibição, por serem considerados sujos e rebeldes à autoridade.
Muitos historiadores dizem que o Carnaval surgiu por volta de dez mil anos antes de Cristo, originário de culto agrário; seu início teria sido com cortejos de homens e mulheres, pintados e cobertos de peles ou de plumas, que gritavam para afastar os demônios da má colheita.
Mas outros atribuem a origem do Carnaval às “festas da fertilidade” da Idade Média, que também tentavam garantir boas colheitas, ou às festas pagãs do Egito, Grécia e Roma que comemoravam as mudanças de estação, como homenagem aos deuses das colheitas, fecundidade, crescimento e abundância.
No entanto, antes disso existiam as comemorações da deusa Isis entre os egípcios, deusa da magia e da ressurreição, e do boi Ápis, da fecundidade e renascimento, que também implicavam em procissões festivas, assim como na Grécia as consagradas a Dionísio, deus das festas e do entusiasmo; em Roma havia as bacanais, as saturnais e as lupercais. As bacanais, em homenagem ao deus Baco, eram celebradas com muita bebida, festas e sexo.
Na Grécia e na Roma antigas os cortejos com pessoas mascaradas eram precedidos pelo “carrus novalis”, carro puxado por cavalos enfeitados, que levava homens e mulheres nus, cantando canções eróticas e convidando a população a participar, e esta possivelmente se tornou o nome da festividade. Outra versão diz que o nome viria do italiano “carnelevale”, com o significado de “tirar a carne”, já que termina na noite anterior à Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma cristã, e da interdição de comer carne.
Na Idade Média o Carnaval já avançava por muitos países, como Espanha, Itália, Alemanha, e vários outros, e estas festas foram se tornando belíssimos espetáculos, como em Veneza ou Florença. Os bailes de máscaras, de particular sucesso na França, extrapolaram datas tradicionais e tornaram-se comuns, e atualmente o Carnaval é uma grande comemoração turística, gerador de renda, e alguns se sobressaem mundialmente, como os de: Veneza, que é famoso pelas suas máscaras e fantasias, atraindo milhares de turistas; o de Nice, que dura duas semanas; e o Mardi Grass em Nova Orleans.
No Brasil, durante o século XX, o Carnaval fez jus à fama de “festa móvel” mudando até de forma radical; as comemorações populares se somavam aos “corsos”, desfiles de carros que então representavam o poder econômico e discriminavam os foliões que não os tinham ou não conseguiam “caronas”. O povo, verdadeiro dono desta festa, descia dos morros e fazia seu próprio desfile, foi quando começaram as “grandes sociedades”, inicialmente luxuosas e sem participação realmente popular, a também desfilar. Nos clubes se faziam festas supostamente mais contidas, movidas a álcool, lança perfume e alguma permissividade disfarçada.
Há atualmente duas vertentes de comemoração: as Escolas de Samba, cada vez mais formais em sua alegria televisionada; os Blocos (ou, vá lá, Bloquinhos) de rua, Trios Elétricos, e todas as manifestações semioficiais porém sinceras de participação popular. As redes de televisão acusam o golpe do cada vez maior desinteresse pelos desfiles de Escolas, que afinal reduzem o público carnavalesco ao papel de plateia.
O verdadeiro espírito da festa é a alegria e o protagonismo de todos, inclusive de crianças, para as quais professores planejam uma série de trabalhos escolares, por meio dos quais ensinam história, sociologia, filosofia e muitas outras disciplinas. Alegria também é ocasião de aprendizagem.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.