CASSANDRAS

Wanda Camargo | assessoria@unibrasil.com.br

Um dos personagens mais trágicos da Mitologia Grega é Cassandra. Filha do rei de Troia, foi alvo da paixão do deus Apolo que lhe ofereceu o dom da profecia em troca do seu amor; aceitando o acordo, Cassandra recebeu o dom e posteriormente negou-se a cumprir sua parte.

Apolo, não podendo retirar o que havia concedido, acrescenta-lhe uma maldição: as profecias seriam reais mas ninguém acreditaria nelas. Ao final do cerco de Troia pelos gregos, estes deixam como “presente” para os troianos um cavalo de madeira, Cassandra bradou desesperada que aquilo era uma armadilha, mas não lhe deram atenção trazendo o cavalo para dentro das muralhas. O final é conhecido, dentro dele se escondiam guerreiros gregos que saíram à noite, abrindo os portões ao seu exército para destruir a cidade.

Essa personagem é símbolo de todos que, de algum modo, sabem de perigos que os demais ignoram ou consideram mais cômodo ignorar – pior ainda, mais lucrativo ignorar -,  e tentam alertá-los em vão, e hoje temos as Cassandras do meio ambiente e da sustentabilidade.

É fácil contabilizar algumas iniciativas ao longo dos últimos anos:

– A ONU promove desde 1995 as COP – Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. A primeira delas foi em Berlim e nela se iniciaria a mobilização mundial pela redução de gases de efeito estufa.

– Em 1997 foi estabelecido o Protocolo de Quioto, e que se estabeleceram metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos.

– A reunião de 2003, em Milão, destacou as regras e procedimentos para projetos florestais no chamado MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, definindo a maneira como os projetos de florestamento e reflorestamento deverão ser conduzidos para reconhecimento junto à Convenção do Clima e obtenção de créditos de carbono.

– Em 2004 a Rússia aderiu ao Protocolo de Quioto, e o Brasil divulgou sua Primeira Comunicação Nacional à Convenção do Clima, com o Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

– O Acordo de Copenhague, em 2009, reconheceu a necessidade de limitar o aumento das temperaturas globais a 2 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais. E ainda, que a promoção de reduções resultados do desmatamento e degradação florestal era fundamental para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

– O Acordo de Paris em 2015 substitui o Protocolo de Quioto, com a meta principal de limitar o aumento da temperatura média mundial em 1,5 graus centígrados.

– Em Glasgow realiza-se a primeira conferência desde o início da pandemia de Covid-19, em 2021, nela as Contribuições Nacionalmente Determinadas foram atualizadas, e novas iniciativas para ações climáticas foram estabelecidas, dado o não cumprimento da promessa de canalizar US$ 100 bilhões por ano para nações de menor renda. Foi aprovado o Artigo 6 do Acordo de Paris, estabelecendo o mercado de carbono global.

– Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, foi promovida a Conferência denominada Rio+20, com o objetivo de discutir o compromisso das nações com o desenvolvimento sustentável. O evento contou com a participação de chefes de Estado e de Governo de 188 nações, além de representantes do Vaticano, da Palestina e da União Europeia, que reafirmaram seus compromissos com a sustentabilidade do desenvolvimento, principalmente no que tange ao modo como estão sendo usados os recurso naturais do planeta.

Exemplos pinçados entre dezenas de outros, evidencia que o planeta está sendo alertado pelos seus melhores representantes de que o tempo está cada vez mais curto para nos salvarmos, a humanidade. Redução drástica de desmatamento, substituição de combustíveis fósseis, medidas várias, conhecidas e essenciais. Sabemos todos o que era preciso ser feito, principalmente os governantes, e não fizemos, ou fizemos muito pouco. Cassandra avisou que consequências aos nossos atos irrefletidos era um fato concreto, e foi ignorada como há mais de dois mil anos em Troia.  

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.